A Medicina e os profissionais ‘da saúde’ atendem doentes e combatem doenças. As pessoas enfermas vão (ou são encaminhadas) ao Sistema de Saúde: consultórios, médicos e hospitais. Paradoxal. “A realidade está grávida de seu contrário.”* Se uma pessoa saudável, em pleno exercício de sua saúde, chega a um consultório, clínica ou hospital, será considerada ingênua e corre o risco de ser ridicularizada em seus temores ou, bem possível, de ser explorada emocional e financeiramente. O mercado clínico explora, lucrativamente, o nosso medo de adoecer e o nosso pavor diante da certeza de que vamos morrer. Além do interesse profissional e financeiro da Indústria Clínica, agora, pessoas sadias, que gozam até de saúde invejável, desejam ser ainda mais saudáveis: SUPERsaudáveis ou mais, HIPERsaudáveis. Possivelmente, na esperança de fazer parte de uma nova espécie humana que viveria trezentos anos, com possibilidade de viver ‘para sempre’. Mesmo que inconsciente ou de forma disfarçada, talvez, já exista um grupo humano sonhando com a construção de uma elite de gigantes, como há uma elite capitalista, que acredita na importância de ficarem cada vez mais ricos, para que os riquíssimos consigam amealhar ainda mais riqueza, formando uma casta que se afastará ainda mais da pobreza popular. Essa elite quer criar um ‘mundo à parte’, distante da miséria e da possibilidade de morrer de fome... Chega, agora, a notícia de que um inglês insatisfeito com o corpo dele pagou mais que R$ 800.000,00 para um cirurgião enxertar ossos nas pernas ... e ele “cresceu 8 cm”.** Imagino que o ego do homem tenha crescido muito mais... Será que ficará mais saudável? Será que estará mais feliz? Na minha terceira passagem como estudante da UFSC, aos cinquenta e três anos, muitos colegas ainda meio adolescentes olhavam com compaixão para o grupo de ‘velhos’ da turma, porque a “Matrix” estava se realizando aos poucos: que eles, SUPERjovens e SUPERinteligentes, seriam os primeiros pós-sapiens-sapiens e que nós éramos bichos do passado, hominídeos a serem usados como serviçais deles, para resolver pequenos problemas que ainda não eram resolvidos pela inteligência artificial e pela automação total. Nesses tempos antropocêntricos e de reinvenção do homem, ressurgem células de fascismo e de nazismo, adeptos da eugenia, e as escolas trabalham na formação de SUPERdotados, a partir da seleção de alunos SUPERinteligentes que possam construir um mundo virtual, espaços cibernéticos ... nas nuvens, residência de semideuses... Lembro que, ao final do Século XX, durante um dos muitos trabalhos meus na Amazônia, me contaram que, em uma aldeia próxima, estava surgindo “uma nova ‘raça’ de índios, índios gigantes”. Isso acontecia em uma única aldeia daquela tribo que habitava uma vasta região. Antropólogos, sertanistas, biólogos, sociólogos e cientistas de ‘instituições superiores’ haviam estudado o fenômeno sob todos os aspectos, sem, porém, encontrar “evidências científicas” que explicassem ‘a boa nova’. Passados alguns anos, um viajante, leigo e despretensioso, perguntou, a um caçador que conhecia quase todas as aldeias, em quantas delas atracava esse barco com câmara frigorífica. “Só nesse”, afirmou ele. Ou seja, os ‘frangos de granja’, com altos níveis de somatotropina (hormônio do crescimento) só chegavam a essa aldeia e os resíduos continuavam agindo naqueles índios ‘privilegiados’. Décadas depois, uma pesquisa acadêmica ‘descobriu’ que, naquela aldeia, as doenças desenvolvidas pelo próprio corpo matavam antes e mais que as doenças transmissíveis. *Princípio fundamental da Filosofia Dialética. **https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2022/11/21/homem-gasta-mais-de-r-800-mil-para-fazer-cirurgia-e-crescer-8-centimetros.htm
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O PORVIR E O POR VIR
Vivo uma vida singela, entre árvores e pássaros, ouvindo a música das cachoeiras, cultivando a horta e o jardim, usufruindo uma aposentadoria tranquila, que possibilita passar algumas horas lendo ou escrevendo.
Amanhã …?
Viverei como escritor-sitiante até quando perder o domínio sobre o corpo e sobre a mente; por enquanto, cuido da casa e do corpo e, com a ajuda do Vanderlei, consigo dar conta dos trabalhos de manutenção do Sítio Itaguá. Depois… quem sabe alguém que ame a natureza queira continuar a obra? Acredito que sempre haverá utópicos dispostos a ‘dar a vida pela natureza’.
Morrer…
Se a morte repentina me apagar, minha velhice será breve…. Caso tenha uma morte longa, dependerei de cuidadores que caibam no meu orçamento e de alguém que administre a situação.
Prefiro morrer ‘na luta’, peleando, de pé. Se acaso as pernas fraquejarem, continuarei a caminhar sobre muletas, rodas ou esteiras, pois, enquanto vivo, quero andar.
Pode a mente sofrer períodos de descontinuidade ou ser desligada definitivamente; sei que pode ocorrer. Quando isso acontecer, peço o favor: desliguem o corpo também. Quando perder o ‘eu’ existencial, nada mais terei para pensar, ler ou escrever e a vida corporal será inútil para mim e um estorvo para as pessoas próximas.
Espero que mente e corpo morram simultaneamente; se um tiver que morrer primeiro, que seja o corpo. Quando a mente morrer, o corpo não saberá o que fazer.
Recontagem de ÚLTIMA TRAVESSIA
Ouvi como anedota. Entretanto, o cenário, o tema e a insolência para com o homem humilde provocaram em mim uma reação ética e uma reflexão filosófica.
Um barqueiro ganhava seu sustento transportando pessoas para a outra margem do imenso rio. Não havia pontes. Era o único meio de transporte disponível. Em geral, transportava pessoas conhecidas, moradores das redondezas ou alguém que queria visitar algum familiar que morava além da outra margem.
Porém, num final de tarde, um homem com aspecto muito diferente dos ribeirinhos contratou uma travessia. As roupas e a pasta demonstravam ser uma pessoa da cidade. Mais que isso, cheio de si, parecia orgulhoso, cheio de si, semostrador.
Logo que a canoa saiu do embarcadouro, perguntou:
– Você conhece a Grécia?
– Grécia? Ela mora por aqui?
– Não, não. Não é uma mulher. A Grécia é um país distante e muito importante, porque foi lá que nasceu a Filosofia. Você deveria conhecer. Você não sabe o que está perdendo…
O humilde barqueiro baixou a cabeça. O objetivo dele era bem simples: levar pessoas de uma margem à outra.
– Você sabe Filosofia?
O barqueiro continuou remando, desinteressado dessa outra… possível … Seria outra nação? Seria uma mulher? Uma cidade?
Mesmo entendendo o silêncio e percebendo a inutilidade de lições, o homem explicou:
– A Filosofia investiga os princípios, os fundamentos e as essências da realidade imanente. Você não sabe o que está perdendo…
O barqueiro nem deu ouvidos; permaneceu atento à força da correnteza e aos movimentos arriscados do passageiro que podiam jogar água pra dentro da embarcação.
– Você sabe por que o avião consegue voar?
Pobre homem!!! Nem sabia da existência de aviões… Via muitos pássaros voarem… Até as folhas secas voam levadas pelo vento… Mas… avião… nem imaginava…
– Não. Não sei, não.
– Você não sabe o que está perdendo…
O barqueiro se sentiu mais pobre ainda… Nada possuía e ainda estava perdendo muita coisa…
– Você já leu Lucas Visentini?
– Lucas, eu conheço. Mas, ler o Lucas… Lá isso eu não sei.
– Você não sabe o que está perdendo…
O homem estava mesmo espezinhando o seu transportador.
– Qual a voltagem da energia elétrica por aqui?
O barqueiro ficou ainda mais confuso. Energia, ele até sabia o que era… Voltagem? Seria a volta de alguém? De dona Elétrica, talvez… Tem cada nome por aí…
– Nunca ouvi falar…
– Você não sabe o que está perdendo…
E assim, enquanto o barquinho singrava as turbulentas e agressivas águas do imenso rio, seguiu o desdenhoso interrogatório.
Além dos perigos naturais de se navegar a imensidão do rio em uma minúscula canoa, um iminente naufrágio ameaçava a vida de ambos, por causa da imprudência do passageiro.
No limite de sua paciência, o barqueiro perguntou agressivamente:
– O senhor sabe nadar?
– Nunca precisei aprender… – ironizou.
– Se continuar enchendo a igara de sabença e saracoteando sem parar, a canoa vai virar e o senhor vai perder tudo o que sabe. Até a própria vida…
PEDOFILIA HUMANA
À medida que sobrevivo por sete décadas, percebo que meu olhar alcança outros níveis, outros horizontes ou que eu consigo visualizar o que estava perto (porém, em segundo plano) e permanecia ‘invisível’. Talvez, minha mente envelhecida, com melhores configurações, consiga ultrapassar o imediato e penetrar através das frestas do senso comum.
Durante a gestação, os meus olhos e a minha mente em construção devem ter visto, inicialmente, escuridões e, gradualmente, penumbras. Na primeira infância, reconheceram rostos familiares, objetos coloridos e fontes de alimentos, como mamas e mingaus? Até os três anos, dispensado de análises éticas e/ou filosóficas, devo ter visto o mundo apenas como paisagem dinâmica.
A ‘idade da razão’ surgiu aos sete anos? Talvez, por aí. Quais as análises que eu fazia aos dez anos? E aos quinze? O que o Mario neo-adulto passou a pensar? Quais os critérios éticos do Mario quarentão? Em que fase radicalizei minhas visões de mundo? (aprofundei raízes…)
Justificadas as minhas idiossincrasias (predisposição do organismo que leva o indivíduo a reagir de maneira peculiar à influência de agentes exteriores/Houaiss), vamos ao tema proposto.
Até envelhecer, lutei para acomodar a ideia de pedofilia como vício de “perversão que leva o indivíduo adulto a se sentir sexualmente atraído por crianças”. Apenas de seres humanos?
Esparramei minha atenção para o reino vegetal e procurei por eventos em que uma planta adulta teria tentado atos reprodutivos com uma planta recém-nascida, com brotos tenros ou com plantas sexualmente imaturas. Nada. Nenhum indício… Concluo que faltam evidências de pedofilia vegetal.
Haveria pedofilia entre os seres microscópicos? Está lançado o desafio…
Entre humanos existe. Humanos são animais. E os outros animais? Vasculhei as prateleiras mais antigas de minha memória, catalogando imagens registradas durante a infância, quando adolescente, durante a juventude e depois de adulto.
Galos, galinhas, pintos; cachaços, porcas, leitões; baguais, éguas e potrinhos; cães, cadelas e filhotes; gatos, gatas, gatinhos; patos, patas, patinhos; marrecos, marrecas e marrequinhos; perus, peruas, peruzinhos; … Nunca vi machos adultos dessas linhagens assediando os recém-nascidos, os desmamados ou os jovens. Pelas minhas interpretações, as danças sensuais animalescas iniciavam depois da maturidade dos animais domésticos.
Os pássaros machos assediam os filhotes nos ninhos? Os passarinhos em treinamento de voo são perseguidos por machos tarados? Quem já presenciou alguma cena comprometedora? Existe pedofilia entre tatus, capivaras, cotias, gambás, lebres, veados, quatis, onças, leões, girafas, elefantes, cobras, baleias, avestruzes, hienas, chipanzés, gorilas ou micos?
Os animais selvagens seriam mais éticos que os humanos? Mas, a ética e a moral não são preceitos humanos? Pedofilia seria um ‘efeito colateral’ da ‘inteligência superior’ do Homo Sapiens? Os seres humanos seriam mais animalescos e selvagens que os ‘animais inferiores’?
DEUS, UM DELÍRIO… COLETIVO.
Eu tenho opinião diferente das opiniões do Richard Dawkins e do Gilvas.
https://mail.google.com/mail/u/0/h/1k1ikw0z3w40a/?&th=16787f1e759d0133&v=c
Deus existe. Sempre um deus coletivo; nunca ouvi falar em deuses individuais; um deus para si mesmo.
Existem muitos ‘de eus’; milhares ‘de eus’. Cada vez que algumas dezenas de pessoas se congregam e se concretam numa ‘verdade’, cada vez que algumas dezenas de eus se sentem irresistivelmente atraídos por uma ideia, esse pensamento se torna ‘ideia fixa’ sobre espiritualidade, etnia, identidade de gênero, medo da morte, martírio, futebol, política, penitência, finanças, economia, estrelas, animais, nacionalismo ou liberdade utópica.
A comunidade adepta constrói um coletivo ‘de eus’ que passa a comandar as subjetividades; pessoas que acreditam em horóscopos, superstições, magias, bruxarias, simpatias, benzeduras, mau-olhado, sucesso, destino, riqueza e compensação celestial.
Para que uma ideia fixa ou uma crença se torne religião, basta que sejam eleitos guardiões. “Muitos são os chamados; poucos, os escolhidos.” O guardião tem a missão de guardar a verdade que foi divinizada, de proteger os crentes que, ao acreditarem cegamente, perdem o senso de realidade, de fiscalizar o cumprimento integral das obrigações dos fieis seguidores e de administrar os tabernáculos que guardam almas e segredos. Daí a existência de confessionários...
Tudo o que for sagrado deve estar protegido em sacrários. Surgem os templos para abrigar as ‘riquezas espirituais’ e um guardião dos guardiões para organizar a estrutura da igreja; uma hierarquia de guardiões.
Assim, nascem as religiões: na contínua e cada vez mais intensa convicção da verdade tornada absoluta para pessoas que se prendem indissoluvelmente a um agregado ‘de eus’; pessoas que, guiadas por um salvador, se ligam, se religam e se sustentam em procissão rumo ao paraíso e/ou ao lucro prometidos.
Pode ser que seja apenas um processo natural, como os processos físico-químicos fundamentais. Quando alguns (ou muitos) elétrons são atraídos irresistivelmente por um núcleo formado por prótons e nêutrons, passam a formar um átomo; quando um ou vários átomos se unem permanentemente uns aos outros, formam moléculas; o aglomerado de moléculas forma matérias, corpos, ligas, artefatos, ... reconhecidos internacionalmente.
Nas Ciências Sociais, as ideias se estruturam em conceitos, teses, sínteses, definições, teorias, doutrinas, ... Os cientistas são guardiões das verdades científicas; nesse sentido, os cientistas são os sacerdotes da Ciência.
“É mais fácil desintegrar um átomo que remover um hábito.” Albert Einstein
E que diluir uma crença.
Porém, as instituições – como o dinheiro, por exemplo – só existem enquanto acreditamos nelas.
PROPAGANDA
A propaganda nada faz; ela é feita.
Ela é feita para difundir o que alguns seres humanos
julgam ser importante para os outros;
para que os outros pensem e ajam de acordo com o propalado.
Muitas vezes, que os outros façam aquilo que eles mesmos não fazem.
Podem ser propagadas ideias, teorias, práticas, comportamentos, exemplos, …
No entanto, mais importante do que identificar o que é propagado
é saber a intenção de quem propaga.
Ideias podem ser verdades, mentiras, meias-verdades ou meias-mentiras.
As mentiras absolutas são vulneráveis ao discernimento.
Mas, como identificar a parte que é verdade e a parte que é mentira?
Infelizmente, a propaganda tem sido instrumento de enganação,
de impor meias-verdades com o objetivo de tirar proveito
da ingenuidade popular, da boa-fé das pessoas.
Tirar vantagens sociais, econômicas ou políticas.
E, tem pressa, pois precisa chegar antes que o espírito desperte
e analise com criticidade as falsas bondades.
A propagação de princípios éticos
independe de urgência e foge de absolutismos;
ela se fortalece na diversidade de pensamentos.
Nos meios de comunicação, em geral,
a propaganda tem a função de enganar,
de criar necessidades inúteis,
de explorar os incautos.
A propaganda ‘profissionalizada’ se alimenta de mentes ingênuas;
porém, enfrenta resistências nas mentes críticas.
Por isso, os profissionais das agências de propaganda,
principalmente da propaganda política,
precisam manter o povo na ignorância,
precisam garantir um rebanho de ingênuos.
Simultaneamente, campo para semear ilusões
e vetor para propagação de ‘epidemias ideológicas’.
Assim, os falsos líderes e os ídolos ocos
são plantados e cultivados em massas acéfalas.
A população domesticada passa a executar,
fielmente, as ideias desses charlatões.
Executa inconscientemente, hipnotizada,
incapaz de pensar criticamente,
de tomar decisões, de fazer escolhas.
Como as pessoas não pensam por si mesmas,
são pensadas pelos outros.
20:06h – 09.03.2011