Os velhos troncos, só no cerne, aprenderam a resistir às ventanias, aos temporais e às enxurradas. Viveram muito; porém, também eles cairão um dia. O cerne representa a solidez vegetal. Como os velhos troncos, fui perdendo o vigor aparente, as partes macias, a elasticidade tecidual. Vou me reduzindo, cada vez mais, à essência de mim mesmo. Sempre procuro e pratico a verdade, mesmo que demore a encontrar. As aparências e as gentilezas cederam lugar à objetividade, ao pragmatismo, ao essencial. Meus olhos ainda veem e, com calma, podem enxergar realidades; meus ouvidos ainda funcionam e a mente ainda elabora mapas de meus entornos sociais. Ainda consigo analisar o que acorre e posso prever, em parte, o que poderá acontecer. Tenho consciência de que o amanhã está mergulhado na dúvida. Atento, sem pressa e agindo conscientemente, ainda posso controlar meu corpo, administrar meu dinheiro, trabalhar e tomar decisões. Eu ainda percebo as possibilidades e sei o que quero. Às vezes, as tempestades testam minha estabilidade. Porém, as ameaças passam e, por enquanto, continuo no controle de minha vida.