GALANTEIOS, IRONIAS E MACHISMO.

GALANTEIOS, IRONIAS E MACHISMO.

Alguns homens são especialistas em galanteios: gostosão, bonitona, mulherão, princesa, …

Habilidade de cortejar uma dama, namorador, elegante, espirituoso, esbelto, distinto, amável com as mulheres, sensual, delicadamente obsequioso, brincalhão, espirituoso, malicioso, engraçado, picante. Enfim: um galo. Os galanteios, atitudes com suas muitas galinhas. Legítimas ou alheias.

Quando os galanteios são destinados a pessoas do mesmo sexo, podem ser falsos elogios, ironias dissimuladas, estratégias de convivência com desafetos; ironia ou desdém. A ironia é uma figura de linguagem “por meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender”; sarcasmo, zombaria, “riso amargo”.

Quando retribuímos os galanteios, por ingenuidade ou para manter a cordialidade social, entramos no jogo perigoso da dissimulação, sendo indulgentes ou fazendo que não vemos, para evitarmos envolvimento afetivo, fugindo da franqueza e da lealdade. Falsos amigos; relações defensivas. A conivência consolida e exacerba essas relações doentias.

Possivelmente, ao elogiar atributos físicos d(a)o colega de trabalho, ao chamar de ‘dama’ uma mulher [“a dama de vermelho”, da cornimúsic], ao usar os pronomes de tratamento senhor e senhora para ‘pessoas mais velhas’, ao homenagear uma mulher pobre e desvalida com o título honorífico ‘dona’ [mesmo que ela não tenha domínio nem sobre o próprio corpo e nenhuma posse, sendo ela mesma posse do marido],  estamos fingindo cortesias e respeito ou manifestando, dissimuladamente, desdém, menosprezo ou indiferença por atributos que invejamos. Assim, interpomos uma distância respeitável.

Respeito, do Grego, res pecto: coisa alheia. Reconhecimento que não temos o domínio, que não podemos controlar as ações ou os atos. Consciência de que devemos permanecer à parte, por atitude ética ou por reconhecimento de incapacidade física ou moral para solucionar os impasses. Decisão de manter a neutralidade.

O machismo – resquício do domínio dos animais machos pela força física – sobrevive entre humanos e se perpetua com a conivência das mulheres. Algumas mães incutem orgulho masculino nos filhos; se sentem realizadas por terem desenvolvido neles o sentimento de domínio, de liderança autoritária, de direito ao uso e ao abuso.