
INCONCEBIDOS

A mulher que mora em você espia pelos poros, fala pelo hálito; impregna a pele, dá calor à imagem, ilumina a ilusão. A mulher que mora em você canta o silêncio e sorri o prazer (momentos de ternura vertem dos olhos em quente vendaval). A mulher que mora em você se contorce em desejo, dança de ansiedade; se esparrama pelo ar, ignora a distância e alcança o amar. A mulher que mora em você navega nas mãos, afoga em carícias; afaga a alma, embala o sonho e adormece em mim.
PARA USO PESSOAL do Mario Tessari.
O sonho é a fonte
de toda realização.
.
Realizar o sonho
é tornar real a ação;
é agir sobre a realidade.
.
Nada será realidade
sem antes ter sido sonho.
Nada é realizado
sem antes ter sido sonhado.
.
O sonho é a semente
da realidade desejada;
sem sonho, não há gênese.
.
O sonho atrai energias,
concentrando no sonhador
as condições para a germinação.
.
O sonhador é o chão em
que nasce e cresce o sonho.
É preciso acreditar,
persistir e ter paixão.
.
Inicialmente, o sonho
sobrevive por si só.
Depois se alimenta da fé
de quem o compartilha.
Se individual, o sonho é frágil,
se coletivo, o sonho se fortalece
se for da humanidade,
o sonho tem a força do universo.
.
O sonho humano
projeta o futuro
sobre a terra.
.
A vida depende do sonho
para poder viver.
A vida é do tamanho do sonho.
Há pessoas de todos os tipos... E, ainda, serão inventados outros... Algumas pessoas conseguem viver desestruturadas, soltas no espaço, livres, originais, inéditas, sem limites. A desordem organiza o mundo delas. No outro extremo, identificamos pessoas agoniadas com a perfeição, que surtam diante de qualquer imprevisto que ameace a rotina. Seguindo um trilho, vivem em paz. Há quem prefira conhecer os seus próprios limites e os limites morais e sociais, para poder respeitar e, sempre que for possível, tentar ampliar seus espaços. A sociedade humana e as coletividades nacionais estabelecem padrões sociais de ordem comunitária, para relações afetivas e para condutas morais. Cabe a cada um de nós escolher entre seguir as leis e as normas ou assumir a liberdade absoluta.
Félix passava a maior parte do tempo sentado no velho sofá da sala hipnotizado pelas imagens e pelo som da televisão. Os assuntos e os fatos eram sempre novos, porque ele esquecia tudo em minutos. Emocionava-se instantaneamente; esquecia imediatamente. Por isso, tudo era novidade. Até a aparição de um dos netos, que ele olhava com curiosidade, pois, na sua mente, não havia registros daquele personagem. Aliás, poderia ter, porém, o avô não encontrava os registros mnemônicos.
Passava horas babando pelos cantos da boca, agitado, excitado; as emoções estremeciam a velha carcaça a cada nova aparição feminina. As borrachas do sofá sofriam com os corpomotos, sismos intermitentes da tensão corporal. Esquecia do mundo. Aliás, de nada lembrava.
A esposa passava o dia em vigília. Preparava as refeições com um olho nas panelas e o outro no marido desmiolado. A mulher ia ao banheiro na correria, aproveitando os momentos em que ele estava encantado com alguma ninfa virtual. Até para atender quem batesse à porta, caminhava de ré, pois o caminho era mais estável que o pai de seus filhos.
Conceição – por ter concebido os filhos dele – prestava os serviços de esposa, de acompanhante e de enfermeira, sem reclamar e, até, com certo humor. Inicialmente, sofreu ataques de ciúme, como os havia sofrido desde que casara e acompanhava as investidas do farmacêutico, especialmente, quando aplicava injeções nas nádegas de suas vizinhas.
Porém, logo tomou consciência de que Félix nem mesmo sabia o que fazia. Deixou de levar a sério as babações, os acenos e os beijinhos jogados para o aparelho de TV. Às vezes, Conceição entrava na brincadeira, sorria para ele, piscava malícias, jogava beijos e perguntava:
— Qué casá comigo?
E ele, com os olhos vertendo ternuras:
— Pode ser…