A MULHER DA MULHER

A mulher que mora em você
espia pelos poros,
fala pelo hálito;
impregna a pele,
dá calor à imagem,
ilumina a ilusão.

A mulher que mora em você
canta o silêncio e
sorri o prazer
(momentos de ternura
vertem dos olhos
em quente vendaval).

A mulher que mora em você
se contorce em desejo,
dança de ansiedade;
se esparrama pelo ar, 
ignora a distância e 
alcança o amar.

A mulher que mora em você
navega nas mãos,
afoga em carícias;
afaga a alma,
embala o sonho e
adormece em mim.

O SONHO DA VIDA

O sonho é a fonte

de toda realização.

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Realizar o sonho

é tornar real a ação;

é agir sobre a realidade.

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Nada será realidade

sem antes ter sido sonho.

Nada é realizado

sem antes ter sido sonhado.

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O sonho é a semente

da realidade desejada;

sem sonho, não há gênese.

.

O sonho atrai energias,

concentrando no sonhador

as condições para a germinação.

.

O sonhador é o chão em

que nasce e cresce o sonho.

É preciso acreditar,

persistir e ter paixão.

.

Inicialmente, o sonho

sobrevive por si só.

Depois se alimenta da fé

de quem o compartilha.

Se individual, o sonho é frágil,

se coletivo, o sonho se fortalece

se for da humanidade,

o sonho tem a força do universo.

.

O sonho humano

projeta o futuro

sobre a terra.

.

A vida depende do sonho

para poder viver.

A vida é do tamanho do sonho.

LIBERDADE INDIVIDUAL E ORDEM PÚBLICA

Há pessoas de todos os tipos...
E, ainda, serão inventados outros...

Algumas pessoas conseguem viver 
desestruturadas, soltas no espaço,
livres, originais, inéditas, sem limites.
A desordem organiza o mundo delas.

No outro extremo, identificamos
pessoas agoniadas com a perfeição,
que surtam diante de qualquer
imprevisto que ameace a rotina.
Seguindo um trilho, vivem em paz.

Há quem prefira conhecer
os seus próprios limites
e os limites morais e sociais,
para poder respeitar
e, sempre que for possível,
tentar ampliar seus espaços.

A sociedade humana
e as coletividades nacionais
estabelecem padrões sociais
de ordem comunitária,
para relações afetivas e
para condutas morais.

Cabe a cada um de nós escolher
entre seguir as leis e as normas
ou assumir a liberdade absoluta.

FÉLIX APAIXONADO

Félix passava a maior parte do tempo sentado no velho sofá da sala hipnotizado pelas imagens e pelo som da televisão. Os assuntos e os fatos eram sempre novos, porque ele esquecia tudo em minutos. Emocionava-se instantaneamente; esquecia imediatamente. Por isso, tudo era novidade. Até a aparição de um dos netos, que ele olhava com curiosidade, pois, na sua mente, não havia registros daquele personagem. Aliás, poderia ter, porém, o avô não encontrava os registros mnemônicos.

Passava horas babando pelos cantos da boca, agitado, excitado; as emoções estremeciam a velha carcaça a cada nova aparição feminina. As borrachas do sofá sofriam com os corpomotos, sismos intermitentes da tensão corporal. Esquecia do mundo. Aliás, de nada lembrava.

A esposa passava o dia em vigília. Preparava as refeições com um olho nas panelas e o outro no marido desmiolado. A mulher ia ao banheiro na correria, aproveitando os momentos em que ele estava encantado com alguma ninfa virtual. Até para atender quem batesse à porta, caminhava de ré, pois o caminho era mais estável que o pai de seus filhos.

Conceição – por ter concebido os filhos dele – prestava os serviços de esposa, de acompanhante e de enfermeira, sem reclamar e, até, com certo humor. Inicialmente, sofreu ataques de ciúme, como os havia sofrido desde que casara e acompanhava as investidas do farmacêutico, especialmente, quando aplicava injeções nas nádegas de suas vizinhas.

Porém, logo tomou consciência de que Félix nem mesmo sabia o que fazia. Deixou de levar a sério as babações, os acenos e os beijinhos jogados para o aparelho de TV. Às vezes, Conceição entrava na brincadeira, sorria para ele, piscava malícias, jogava beijos e perguntava:

— Qué casá comigo?

E ele, com os olhos vertendo ternuras:

— Pode ser…