TEXTOS DE VIDAS

Histórias gravadas em neurônios.

 

A equipe de neurônios – o cérebro –

armazena e administra informações.

 

Se estiver bem configurada,

a mente seleciona conhecimentos,

arquiva o que possa ser útil e

descarta dados provisórios, fracos,

efêmeros, inócuos ou imprestáveis.

 

O conjunto de repertórios individuais

– compostos de dados escolhidos

por cada um dos pensantes –

forma a consciência coletiva,

a história da comunidade.

 

Os livros particulares e os públicos

podem ser lidos por quem se interessar;

mexeriqueiros, indiferentes e alienados

utilizam a biblioteca universal

segundo critérios convenientes.

 

Os dias – páginas das vidas – revelam

monotonias, inconstâncias e surpresas;

nem sempre as frases e os parágrafos

obedecem às especificações

dos títulos e dos sumários dos livros.

 

Cada notícia, mudança ou invenção

registrados nos livros vitais,

– parágrafos históricos pessoais,

páginas ou capítulos nacionais –

podem ser lidos como verdades,

engodos encobertos, mentiras;

ou podem ser só trechos a deletar.

 

A cada linha, a cada parágrafo,

as surpresas podem inverter

visões de mundo, expectativas,

crenças e filosofias de vida.

 

As leituras podem encontrar

continuidade coerente

com o que foi anunciado

ou rupturas, descontinuidades

e, até mesmo, contradições.

 

Ler os livros vitais pode ser exercício

enfadonho, revelador ou assustador;

o conteúdo das páginas seguintes

sempre será uma incógnita.

CICLO VITAL

A vida humana inicia em um minúsculo zigoto,

microscópico grão de vida que lutará pela sobrevivência.

 

O embrião desenvolve, cresce e

chega à idade adulta para competir.

Aos poucos, perde a vitalidade

e, finalmente, a vida.

 

Da proteção no útero,

o bebê sai para a luz e para o vento,

abrigado ainda pela família, talvez.

Na infância, expande a rede de relações;

na adolescência, participa dos jogos sociais

e se prepara para exercer uma profissão,

pela qual busca conquistar espaços na fase adulta;

se expõe a experiências, constrói autossuficiência

e pode alcançar a autonomia.

 

Ao considerar suficientes os espaços conquistados,

procura manter o domínio e seleciona ideias e amigos,

delimitando espaços ao alcance da mão.

Abre a mente para colher informações,

testa os limites e, na plenitude das conquistas,

começa a podar as ilusões que pesarem desconfortos.

Inicia o processo de enxugamento,

eliminando gradativamente os supérfluos.

 

A simplicidade, a humildade e o equilíbrio

podem contribuir para a saúde física e mental.

Alimentação inadequada, trabalho extenuante,

batalhas inglórias, exageros e intempéries

podem acelerar o desgaste natural.

 

Na velhice, evita aventuras, ressignifica experiências,

reduz o círculo de amizades e valoriza a privacidade.

Para morrer, necessitará apenas de si mesmo.

 

Cada um tem seu tempo de vida útil.

Alguns esperam enfermos pelo descanso eterno.

Construído em parceria com Gilvan Tessari.