O RIO E A SANGA
O Rio Itaguá e a Sanga Grande deslizam sobre o mesmo leito. Porém, de forma um tanto diferente. Na maior parte do ano ou por um ano todo, águas cristalinas formam o Rio Itaguá; eventualmente, em tempos desavisados, essa paz operativa é assaltada por uma avalanche de águas barrentas que carregam plantas e peixes, além de devastar as margens. Aí, o rio vira uma sanga.
O Rio Itaguá escorre manso como uma água cotidiana, com a regularidade de um relógio, já a Sanga Grande é força de enxurrada devastando a vegetação ribeirinha. Ele é todo encanto; ela é pura fúria.
Para quem vê um corguinho passar cantando na maioria dos dias normais não imagina que, nas meias-estações, esse seja invadido por torrentes descontroladas que carregam pontes e barragens. Até mesmo as pedras do leito, que servem de esteira para as águas tranquilas do de-quase-sempre, são arrastadas pelas correntezas dos temporais.
Também de excessos os dois são tomados: o Rio Itaguá é acometido de secas avarentas que roubam quase toda a sua água; a Sanga Grande, nos inícios de outonos e de primaveras, é dominada por epidemias de enchentes, como que diarreias da Natureza.
Se ele sofre continuamente dessa anemia de seca, ela, esporadicamente, é tomada por ataques convulsivos de descargas atmosféricas que transformam a regularidade costumeira em evento bissexto.
Vocês podem estar pensando que esse texto e um surto poético, mas asseguro que ele retrata apenas a realidade real, possível de ver e de comprovar.