Mario,
Dei risadas ao ler “O Intelectual e o Sábio”. Que situação vexatória aquela do cainte do céu!
Dependurado, quem sabe pelo cós da calça, balançando no ar feito ramagem ao vento. E o
caboclinho ali no maior sossego só mandando respostas certeiras, bem ao espírito do nosso
caboclo, que, diga-se, é ladino e cheio de prosa. Muito bons os diálogos deste conto.
“Relógio do Desassossego” é bem engendrado, com surpresas inusitadas; o insólito bailando
na ação da personagem Marília que sem saber assalta um pobre operário… E o pobre sem
entender como uma madame daquelas munida de faca é capaz de cometer assalto…
A criatividade é a tônica deste conto.
Em “Helesé”, o personagem de mesmo nome mete os pés pelas mãos. Iludido, o ‘espertalhão’,
depois de uma sequência de desatinos, se dá mal e vai curtir sua grande tolice no xadrez.
Calha bem para a sua desventura a máxima: “o tiro saiu pela culatra”.
Em “Um Bairro Chamado Favela” o tema é clássico: o sonho dos inocentes, dos que não usam
a cabeça para pensar e agem por impulso quase animal, na ilusão de uma vida melhor. Este
José aqui se deu mal também, mas por ingenuidade; tanto é que o patrão o perdoou.
No todo, os contos oscilam entre o rural e o urbano e guardam a mesma marca de estilo já
firmada em Roda de Chimarrão e Amores Efêmeros: linguagem fácil, coloquialismo e um
leve tom de humor.
Abraços do amigo,
Gilvanni de Amorim
Teresina – PI
Este livro está em fase final de revisão e de desenho da capa.
CONSIDERAÇÕES SOBRE 4 CONTOS
MARIO TESSARI
(Em primeiro lugar parabéns pela família que, unida, produziu a obra.)
Recebi com alegria teu mais recente livro. Creio já haver mencionado que tens uma capacidade incrível em visualizar teus contos e permitir que o leitor veja todas as cenas descritas.
Assim é o contista. Ele descreve a cena e o leitor está ali, perto, se divertindo, como nesta obra com 4 contos.
Uma diversão o primeiro conto “O intelectual e o sábio”. O homem da cidade, arrogante no alto de sua pseudo sapiência, se defronta com um ser simples, porém com uma grande sabedoria extraída da natureza. O matuto mostrou a vida simples, sem estresse, devagar, seguindo o que mandava o dia.
Ao final, percebe-se que o intelectual aprendeu o que é viver bem, contando com apenas aquilo que Deus lhe deu. Retorna à vida da cidade, porém lá no seu íntimo alguma coisa a mais estava brilhando.
OoOoo
Um bairro chamado Favela
A ilusão mostrada pela televisão faz com que muitas vezes as pessoas, ao vislumbrar a maravilha, gente rica e linda, os prazeres da carne, ao se defrontares com a realidade, sofrem a discriminação, a fome, o desespero ante a falta de trabalho e a fome. Idealizam e anseiam viver como artistas vivem.
A realidade de José, no seu sonho em viver na cidade, sua parca educação, faz com que ele desejasse estar onde a vida corria fácil. Não sabia o que era favela, achava um lugar agradabilíssimo, porém a realidade é dura, cruel.
Um conto com personagem real, eis que todos os dias nas grandes cidades, imigrantes aparecem em busca de um lugar ao sol para fugir das agruras do campo e são presas fáceis nas mãos dos mais espertos.
Oo00oo
Helesé
Conto dividido em quatro cenas em que Helesé era um cabeça-de-vento, simplório que passou a infância com as rédeas soltas. Na idade adulta, pensando ser esperto, mentiu que sabia, mas que não tinha a menor ideia onde uma praia ficava só porque anteviu ser agraciado com a beleza de uma turista e, desta mentira encadearam-se outras tantas com um falso sequestro até culminar em sua prisão.
A mãe, na prisão, sabedora da imbecilidade do filho não se comove com a baboseira que ele contou. A chegada de um advogado de porta de cadeia, que vislumbra ganhar benesses políticas com a soltura do simplório, provocará sua saída, pois o capiau era mesmo um ser desastrado.
O último parágrafo fecha com chave de ouro este conto: O cliente era primário, inclusive réu primário. Além de ser um ser primitivo.
Oo0oo
Relógio do Desassossego
Interessante conto a partir de um presente caro para uso no dia a dia de uma dona de casa. Uma vida rotineira de repente se transforma em nervosismo, expectativa diante de um assalto iminente por causa de um relógio que o marido havia presenteado, com o objetivo de tirar um pouco o casamento de um marasmo de 37 anos.
A mulher diante da paranoia ocasionada pelo rico presente, chega a assaltar um pobre coitado, pois de tanto esconder a joia, esquecera no escritório e como uma loucura leva a outra, o pobre diabo fica sem seu relógio.
Diante do desassossego provocado pela joia, que a mulher pede para o marido dar um fim, a vida depois voltará ao normal.
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São quatro contos relatando fatos do cotidiano, coisas possíveis de acontecer muito bem relatados por Mario Tessari, um contista de mão cheia.
Profª Maura Soares
19.2.2016
Primeiramente, para mim, foi um grande prazer ler o livro 4 CONTOS.
Sou fã do Mário Tessari e, através dos seus livros, faço belas viagens por “mundos”, às vezes desconhecidos, às vezes bem familiares…
Desejo todo o sucesso do mundo para esse meu camarada!
Sou grato pela força que sempre tive por parte desse importante escritor; me incentivando a escrever e me devolvendo o prazer pela leitura.
Paulo Romero de Farias.
João Pessoa,PB.
Quatro são os contos, amigo Tessari, mas seria possível tentar uma interpretação única, apesar de todas as diferenças? Pois a questão principal não seria que nós, como as árvores da floresta, crescemos cada vez mais em altura e maior diâmetro para reafirmar sempre o mesmo solo, o mesmo ar e as mesmas águas e com nossas raízes monumentais restamos impassíveis no fim, como o narrador daquele conto de Guimarães Rosa, “A Terceira Margem do Rio”, que permaneceu imóvel diante do imponderável, “com as bagagens da vida”? Ou será que, quando mudarem os ventos e as chuvas de dissiparem, e até as paisagens se tornarem inóspitas, poderíamos viver além dos nossos antigos esquemas, expectativas e determinações, noutros ares e terras novas, com raízes regeneradas? Como agir, enfim, apropriadamente?
Pois foi dessa maneira que o intelectual caiu, quando as coisas mais elementares desqualificaram seus conhecimentos, e o sertanejo foi atraído e repelido por uma realidade fascinante e desconhecida, como em “O Castelo” de Kafka, mas onde nunca conseguiu penetrar realmente. É também o caso do “Relógio do Desassossego”, um objeto extraordinário capaz de controlar aqueles que o possuem e que poderia simbolizar a fortuna mas que, naquele contexto, quase levou à ruína os que desconheciam esta “propriedade mágica”. E o exemplo mais emblemático, Helesé, o homem que se perdeu na vida, classificado na mesma categoria dos objetos que o cercavam, as “enxadas, vassouras e pás”. Conto muito bem escrito, com influências taoístas, segundo parece, sobre alguém que trouxe o caos à própria existência e que agia inadequadamente em todas as ocasiões.
Abraços,
Evandro – MG.
Estimados(as) leitores(as),
Foi com alegria e satisfação que apreciei essa maravilhosa obra do querido amigo escritor Mario Tessari.
Um livro que pode ser lido em apenas um dia, não muito extenso, mas rico em personagens que nos encantam com suas peripécias. “4 contos”: enredos banais, personagens que representam pessoas comuns vivendo tranquilamente o seu dia a dia, até que algo inesperado acontece – alguém que cai de paraquedas, a decepção com a dura realidade da cidade grande, uma viagem cujo rumo tomou um destino inesperado, um presente que acabou trazendo mais problemas que alegrias… São pequenas epifanias que mudam para sempre os destinos das personagens (e não é exatamente isso que pode acontecer em nosso cotidiano com cada um de nós? Não é justamente o inesperado – alguma revelação – que faz a vida valer a pena?)
Se quatro são os contos da obra, infinitas são as possibilidades de apreciá-la e de viajar em seus enredos surpreendentes. Marcas da escrita de Tessari, a qual nos brinda com sua simplicidade e profundidade. Que Mario possa nos agraciar com tantos outros livros tão inspiradores quanto fantásticos. Recomendo a leitura do livro a todos apreciadores da boa literatura.
Abraços literários,
Prof. Lucas Visentini
Santa Maria da Boca do Monte, RS.