ABRAÇOS

Tive a pretensão de saber todos os abraços;

de conhecê-los e de praticá-los.

De receber totalmente o espírito do corpo que eu abraçava;

de aceitar e de ser aceito, completamente…

 

Pretensão de ter provado de todos os abraços:

o mais doce, o mais rápido, o mais leve, o mais apaixonado,

o mais forte, o mais quente, o mais longo, o mais triste,

o mais solto e o mais sincero…

 

Mas, naquele final de noite, após três turnos de trabalho,

nossos corpos se encontraram, naturalmente suados

e com sonos em nossas pálpebras,

toda teoria

– de que devemos tomar um banho antes do abraço

e de que a qualidade da roupa determina o prazer dos corpos –

perdeu a validade…

 

No silêncio noturno, nossos corpos se fundiram

como se fossem partes de uma mesma peça;

sem faltas nem excessos, num todo homogêneo.

Abraço forte e suave, apenas não-permanente.

 

Foi esse abraço que nos fez esquecer todos os anteriores e

foi esse abraço que decretou haver mais haver abraços assim…

Tessari, Mario. Poemas de Mario Tessari que eu Gosto – Maria Elisa Ghisi. Jaguaruna, Edição do autor, 2014. (pg 33)