ÂMAGO

Os velhos troncos, só no cerne,
aprenderam a resistir às ventanias,
aos temporais e às enxurradas.
Viveram muito; porém,
também eles cairão um dia.

O cerne representa a solidez vegetal.

Como os velhos troncos,
fui perdendo o vigor aparente,
as partes macias, a elasticidade tecidual.
Vou me reduzindo, cada vez mais,
à essência de mim mesmo.

Sempre procuro e pratico a verdade,
mesmo que demore a encontrar.
As aparências e as gentilezas
cederam lugar à objetividade,
ao pragmatismo, ao essencial.

Meus olhos ainda veem e,
com calma, podem enxergar realidades;
meus ouvidos ainda funcionam
e a mente ainda elabora
mapas de meus entornos sociais.
Ainda consigo analisar o que acorre
e posso prever, em parte,
o que poderá acontecer.
Tenho consciência de que
o amanhã está mergulhado na dúvida.

Atento, sem pressa
e agindo conscientemente,
ainda posso controlar meu corpo,
administrar meu dinheiro,
trabalhar e tomar decisões.

Eu ainda percebo as possibilidades
e sei o que quero.
Às vezes,
as tempestades testam minha estabilidade.
Porém, as ameaças passam
e, por enquanto,
continuo no controle de minha vida.

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