A certeza de que a vida é curta aumenta com a idade. Até os quatro anos, nem sabemos que pensamos. Até a adolescência, carecemos de consciência moral. As primeiras décadas transcorrem sem economia de tempo, pois, parece que seremos eternos. No entanto, a meia-idade vem nos avisar de que a manhã já se foi e que a tarde se esvai: o vigor físico cede lugar à debilidade. Tomamos consciência de que o aclive chegou ao fim e que a ‘melhor idade’ escorre cachoeira a baixo. Se na juventude esbanjamos energia e corremos atrás de aventuras, na maturidade, passamos a escolher com cuidado os encontros e as companhias.
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DEUS, UM DELÍRIO… COLETIVO.
Eu tenho opinião diferente das opiniões do Richard Dawkins e do Gilvas.
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Deus existe. Sempre um deus coletivo; nunca ouvi falar em deuses individuais; um deus para si mesmo.
Existem muitos ‘de eus’; milhares ‘de eus’. Cada vez que algumas dezenas de pessoas se congregam e se concretam numa ‘verdade’, cada vez que algumas dezenas de eus se sentem irresistivelmente atraídos por uma ideia, esse pensamento se torna ‘ideia fixa’ sobre espiritualidade, etnia, identidade de gênero, medo da morte, martírio, futebol, política, penitência, finanças, economia, estrelas, animais, nacionalismo ou liberdade utópica.
A comunidade adepta constrói um coletivo ‘de eus’ que passa a comandar as subjetividades; pessoas que acreditam em horóscopos, superstições, magias, bruxarias, simpatias, benzeduras, mau-olhado, sucesso, destino, riqueza e compensação celestial.
Para que uma ideia fixa ou uma crença se torne religião, basta que sejam eleitos guardiões. “Muitos são os chamados; poucos, os escolhidos.” O guardião tem a missão de guardar a verdade que foi divinizada, de proteger os crentes que, ao acreditarem cegamente, perdem o senso de realidade, de fiscalizar o cumprimento integral das obrigações dos fieis seguidores e de administrar os tabernáculos que guardam almas e segredos. Daí a existência de confessionários...
Tudo o que for sagrado deve estar protegido em sacrários. Surgem os templos para abrigar as ‘riquezas espirituais’ e um guardião dos guardiões para organizar a estrutura da igreja; uma hierarquia de guardiões.
Assim, nascem as religiões: na contínua e cada vez mais intensa convicção da verdade tornada absoluta para pessoas que se prendem indissoluvelmente a um agregado ‘de eus’; pessoas que, guiadas por um salvador, se ligam, se religam e se sustentam em procissão rumo ao paraíso e/ou ao lucro prometidos.
Pode ser que seja apenas um processo natural, como os processos físico-químicos fundamentais. Quando alguns (ou muitos) elétrons são atraídos irresistivelmente por um núcleo formado por prótons e nêutrons, passam a formar um átomo; quando um ou vários átomos se unem permanentemente uns aos outros, formam moléculas; o aglomerado de moléculas forma matérias, corpos, ligas, artefatos, ... reconhecidos internacionalmente.
Nas Ciências Sociais, as ideias se estruturam em conceitos, teses, sínteses, definições, teorias, doutrinas, ... Os cientistas são guardiões das verdades científicas; nesse sentido, os cientistas são os sacerdotes da Ciência.
“É mais fácil desintegrar um átomo que remover um hábito.” Albert Einstein
E que diluir uma crença.
Porém, as instituições – como o dinheiro, por exemplo – só existem enquanto acreditamos nelas.
JOGOS SEXUAIS
Os rebanhos humanos seguem em busca de saciedade. E, saciados, mantêm, na lembrança, a sensação do prazer sentido ao saciar a fome, a vaidade e os desejos. O prazer norteia a marcha dos rebanhos que buscam alimentos para satisfazer o corpo, emoções para satisfazer a libido, poderes para satisfazer o orgulho ou dinheiros para comprar alimentos, emoções e poderes. Saciadas as necessidades naturais, os humanos criam artificialmente novas necessidades para obter repetidas oportunidades de sentir prazer, comendo, acariciando, comprando, subjugando e dominando. O saciamento de necessidades, de desejos e de vaidades, entretanto, cobra altos preços. Nada é de graça. Quem pode saciar uma necessidade aproveita o ensejo para capitalizar espaços de dominação e cotas de poder. Talvez, a necessidade de pertencimento seja a força que une e comanda a massa humana que segue atrás de bandeiras de luta desenhadas com ingenuidade e/ou má-fé. Por detrás de slogans, palavras-ônibus e discursos – hinos instantâneos e efêmeros –, existe um emaranhado de correntes que ovelhas e cordeiros ignoram ou fingem não ver. Cidadania, democracia, direitos humanos, preconceito, assédio sexual, racismo, desigualdade social, trabalho escravo, ... os catecismos conseguem uniformizar a marcha do rebanho. Cantando a mesma canção, ovelhas e cordeiros se sentem seguros para caminharem na mesma direção. Dentre as estratégias usadas pelo comportamento tribal, está a cortina que encobre os jogos sexuais. Robôs conduzidos por inteligência artificial estão imunes a atrações sensuais, hormônios provocadores, agressões físicas e assassinatos. Seres humanos – por enquanto – ainda agem e reagem por estímulos, excitações, provocações e artimanhas sensoriais. É ingenuidade ou hipocrisia se esconder atrás de ondas sociais ou de discursos superficiais sem analisar as relações lógicas de causa-efeito que ocorrem na fisiologia dos corpos. As ondas moralistas se assemelham a religiões politeístas com deuses virtuais instáveis e sacerdotes eventuais que usam e dominam as ferramentas eletrônicas para subjugar instintos, sentimentos, ciclos naturais e eventos biológicos. Acondicionam os fenômenos reprodutivos em fôrmas ideológicas anônimas e massacrantes: trituram os grãos para formar uma massa de aspecto aparente uniforme. Usam a mídia e por ela são usados. As árvores que expõe flores para as abelhas polinizarem e que geram frutos com sementes férteis distribuídas pelas aves devem ser submetidas às vontades humanas, produzindo lucros para o mercado capitalista. Manipulam as videiras para produzir uvas sem sementes durante todo o transcurso anual e em todas as regiões; negam o convívio de casais de animais em primavera: confinam, inseminam, engordam e abatem. Escravizam animais e vegetais ao deus Consumo, usando engenharias genéticas e transgenias. As pessoas devem controlar seus hormônios e desejos, fingindo desconhecer as reações naturais do próprio corpo, como se as glândulas femininas não liberassem estrogênio e as glândulas masculinas não liberassem testosterona; esses odores devem ser abafados com perfumes potentes. Porém, a indústria e o comércio podem livremente explorar a moda baseada em atrativos sexuais e obter lucros usando imagens e imaginações dos próprios consumidores fanatizados, que são o princípio e o fim dos processos consumidores. A violência visível pode encobrir a violência simbólica e a manipulação, sejam elas conscientes, intencionais ou ingênuas. Muitos buscam gozar prazeres e tirar vantagens sem compensar as vítimas em ambos os lados da guerra. Os espertos usam os mantras para ganhar palco e para cobrar indenizações pelas reações alheias, se fazendo de vítimas dos jogos sexuais de iniciativa própria. Sítio Itaguá, das 03:08 às 04:10 horas do dia 01jan2017.
Em memória de Júlio Dias de Queiroz.
Bom ler seus escritos. Sempre aprendo e ficam aspirações de desvendar como faz para criar relatos que nos fazem sempre querer chegar ao parágrafo seguinte.
Viver. Morrer. Você divaga e navega nestas correntes difíceis de aceitar ou concordar com tantas indagações, sempre sem respostas convincentes. Mas, na verdade, até me convenceu de que nascemos tantas vezes que, talvez, até possamos continuar vivendo…
Basta ser um bom escritor … talvez, um bom filho … ou (quem sabe?) um bom amigo como o seu velho mestre que faleceu aos mais de noventa anos. Foi seu amigo, seu mestre e seu leitor.
Você teve a humildade e a gentileza filial de reconhecer o saldo positivo das cartas trocadas. Sugestões singelas que o inspiravam a pensar no futuro e no que passou e (o pior) nas duas implacáveis certezas: a existência do nascer e do morrer. Por tantas vezes e por tantas causas.
E, quanto mais vivemos, amigo Mario Tessari, mais fingimos não acreditar no fim.
É alta madrugada. Vamos ao descanso.
Fraterno Abraço
Pedro Paulo Pamplona Vieira Peixoto