Podemos mudar de apartamento, casa, bairro, cidade, região, país, … Talvez, … de planeta…
Impulsionados por insatisfações, saturamentos, esgotamentos, tragédias, expulsões, aversões ou oportunidades.
Podemos deixar o indesejado, algo do que fomos, apelidos, relações, humilhações, perseguições, limitações espaciais ou emocionais.
Em busca de horizontes amplos, harmonia interna, familiar, social ou comunitária: melhores condições de vida.
Podemos mudar de residência e aproveitar para mudar de vida.
Ou, ingenuamente, carregar conosco idiossincrasias, ilusões, manias, comportamentos, …
Assumindo os mesmos papeis, repetindo hábitos prejudiciais, reconstruindo o desagradável…
Ou podemos aproveitar a mudança para mudar a nós mesmos, abandonando ‘verdades’, replantando esperanças e concretizando sonhos.
Livros do Mario Tessari 
Já dá trabalho deixar de ser o que sabemos que somos. Então imagina deixar para trás aquilo de que nem desconfiávamos. Nossos cacoetes aderem a nossos gestos, roubam a força de nossas falas bem debaixo de nossos narizes. A inconsciência de si, quem diria, talvez seja a única cápsula capaz de salvar algo de nossos eus antigos, a manter algo a salvo do tempo. Nunca saberemos, entretanto.
Poisé. Meu texto se limitou ao perceptível e mensurável, talvez. Você ponderou a dificuldade de superar o que pensamos “que sabemos que somos.” Pouco e mal nos vemos; dependemos de espelhos amigos que nos contem das mudanças sutis e inexoráveis que nos moem nas engrenagens do inevitável viver. Voltamos à importância do ouvir: se não aprendermos a ouvir, ficaremos presos na “cápsula capaz de salvar algo dos nossos eus antigos”, pensando sermos o que – talvez, só talvez… – fomos.