Os rebanhos humanos seguem em busca de saciedade. E, saciados, mantêm, na lembrança, a sensação do prazer sentido ao saciar a fome, a vaidade e os desejos. O prazer norteia a marcha dos rebanhos que buscam alimentos para satisfazer o corpo, emoções para satisfazer a libido, poderes para satisfazer o orgulho ou dinheiros para comprar alimentos, emoções e poderes. Saciadas as necessidades naturais, os humanos criam artificialmente novas necessidades para obter repetidas oportunidades de sentir prazer, comendo, acariciando, comprando, subjugando e dominando. O saciamento de necessidades, de desejos e de vaidades, entretanto, cobra altos preços. Nada é de graça. Quem pode saciar uma necessidade aproveita o ensejo para capitalizar espaços de dominação e cotas de poder. Talvez, a necessidade de pertencimento seja a força que une e comanda a massa humana que segue atrás de bandeiras de luta desenhadas com ingenuidade e/ou má-fé. Por detrás de slogans, palavras-ônibus e discursos – hinos instantâneos e efêmeros –, existe um emaranhado de correntes que ovelhas e cordeiros ignoram ou fingem não ver. Cidadania, democracia, direitos humanos, preconceito, assédio sexual, racismo, desigualdade social, trabalho escravo, ... os catecismos conseguem uniformizar a marcha do rebanho. Cantando a mesma canção, ovelhas e cordeiros se sentem seguros para caminharem na mesma direção. Dentre as estratégias usadas pelo comportamento tribal, está a cortina que encobre os jogos sexuais. Robôs conduzidos por inteligência artificial estão imunes a atrações sensuais, hormônios provocadores, agressões físicas e assassinatos. Seres humanos – por enquanto – ainda agem e reagem por estímulos, excitações, provocações e artimanhas sensoriais. É ingenuidade ou hipocrisia se esconder atrás de ondas sociais ou de discursos superficiais sem analisar as relações lógicas de causa-efeito que ocorrem na fisiologia dos corpos. As ondas moralistas se assemelham a religiões politeístas com deuses virtuais instáveis e sacerdotes eventuais que usam e dominam as ferramentas eletrônicas para subjugar instintos, sentimentos, ciclos naturais e eventos biológicos. Acondicionam os fenômenos reprodutivos em fôrmas ideológicas anônimas e massacrantes: trituram os grãos para formar uma massa de aspecto aparente uniforme. Usam a mídia e por ela são usados. As árvores que expõe flores para as abelhas polinizarem e que geram frutos com sementes férteis distribuídas pelas aves devem ser submetidas às vontades humanas, produzindo lucros para o mercado capitalista. Manipulam as videiras para produzir uvas sem sementes durante todo o transcurso anual e em todas as regiões; negam o convívio de casais de animais em primavera: confinam, inseminam, engordam e abatem. Escravizam animais e vegetais ao deus Consumo, usando engenharias genéticas e transgenias. As pessoas devem controlar seus hormônios e desejos, fingindo desconhecer as reações naturais do próprio corpo, como se as glândulas femininas não liberassem estrogênio e as glândulas masculinas não liberassem testosterona; esses odores devem ser abafados com perfumes potentes. Porém, a indústria e o comércio podem livremente explorar a moda baseada em atrativos sexuais e obter lucros usando imagens e imaginações dos próprios consumidores fanatizados, que são o princípio e o fim dos processos consumidores. A violência visível pode encobrir a violência simbólica e a manipulação, sejam elas conscientes, intencionais ou ingênuas. Muitos buscam gozar prazeres e tirar vantagens sem compensar as vítimas em ambos os lados da guerra. Os espertos usam os mantras para ganhar palco e para cobrar indenizações pelas reações alheias, se fazendo de vítimas dos jogos sexuais de iniciativa própria. Sítio Itaguá, das 03:08 às 04:10 horas do dia 01jan2017.