- O amar depende da decisão de aceitar o outro como ele é.
- Economia é a arte de saber gastar.
- A sede ensina a cavar poços.
- Felicidade é ter o que fazer.
- A morte nos ensina a viver.
Do livro LETRAS, PALAVRAS, FRASES, POEMAS.
Do livro LETRAS, PALAVRAS, FRASES, POEMAS.
Comandantes de instituições religiosas criam interdições (muitas vezes, incompreensíveis), que colocam névoas intelectuais entre as pessoas, dificultando a comunicação e criando o obscurantismo. Somos vítimas, “… seres humanos sacrificados a uma divindade ou em algum rito sagrado.”¹ Vivemos sob os constrangimentos morais dos “bons costumes” decorrentes de estratégias de dominação dos humildes por líderes ‘bondosos’, espertos e prepotentes.
Os dogmas e os mitos descrevem eventos metafísicos, criados por discursos da classe dominante e perpetuados pela oralidade plebeia ágrafa e subservil. As elites governantes inventam categorias sobrenaturais para justificar as transgressões às regras morais usadas para subjugar os súditos. Ou seja, controlam o povo com normas que se permitem burlar para dar plena vazão à corrupção, à devassidão, à libertinagem, à perversão e à exploração de seus semelhantes, como escravos ou fregueses de “determinada paróquia ou freguesia”¹.
Os semideuses da mitologia grega (satiros) e romana (faunos), como os demais semideuses em todos os impérios, leigos ou religiosos, permitiam a si o que proibiam aos comandados. Homens com cabeça de bode (que pensavam como um bode de alta potência sexual) que se permitiam a si mesmos (apenas a si mesmos…) dispensar o bom senso e, sem escrúpulos, liberar os instintos animalescos para praticar vícios e abusos.
A dominação masculina começa ao anexar as mulheres pela linguagem: a palavra ‘homens’ designando mulheres e homens, as fêmeas e os machos da espécie Homo Sapiens. Mitos e regras impostas por homens (masculinos, não-femininos) que, em casos extremos, transformam meninas, moças e mulheres em animais domésticos. O machismo permeia a cultura colonial europeia. (Desconheço os comportamentos de gênero nas demais culturas. E, como não conheci e nem convivi com sociedades matriarcais, fico curioso sobre os comportamentos do femealismo.)
Os tabus influenciam os costumes e, consequentemente, a linguagem. O uso de eufemismos e de jargões camufla a realidade objetiva (camuflar = disfarçar, enganar), gerando escrúpulos infundados, inquietação mental, subserviência, constrangimento e interdição cultural ou religiosa. A hipocrisia imposta pela língua condena, por tabuísmo, palavras comuns, triviais e vulgares. Ou seja, demonializa objetos naturais e ações corriqueiras do nosso cotidiano.
Podemos tomar como exemplo o generalizado uso da expressão “câncer de mama”.
O tabu exige que, ao falarmos de mamas, usemos o ‘bom senso’, eufemismos, palavras não interditadas pela MORAL: ‘peito’ ou ‘seio’. “Deu o peito ao bebê.” “Tem o peito pequeno.” “Estava com o seio à mostra.” “Machucou o seio.”
Em anatomia, identificamos ‘peito’ como “porção anterior ou ventral do tórax”¹. Daí decorre o absurdo de afirmar que a mulher tem dois peitos. (E as porcas, então, teriam entre doze e dezesseis peitos???) Os rapazes também têm um único peito e duas mamas, em geral, pouco desenvolvidas.
No mesmo dicionário, podemos encontrar que ‘seio’ significa “parte do pescoço e do peito feminino que pode ficar descoberto”¹. (Os humanos machos e machos ‘humanos’ permitem essa sedução…) Ou “parte interna”¹, “cavidade”¹. Nas aulas de Anatomia, aprendi que o ‘seio’ de qualquer pessoa estava localizado sobre o osso esterno, entre as duas mamas. De homens e de mulheres.
Por outro lado, deslembro de ter ouvido expressões como ‘espinho de pé’, ‘câncer de cabeça’, ‘câimbra de perna’, ‘dor de coluna’, ‘cólica de rim’, ‘cólica de útero’, ‘afta de boca’, … Em geral, ouço falar ‘espinho no pé’, ‘câncer na cabeça’, ‘câimbra na perna’, ‘dor na coluna’, ‘cólica nos rins’, ‘cólica no útero’, ‘afta na boca’.
Então, talvez, o mais correto (e menos dissimulado) seria dizer ‘câncer em uma mama’, ‘câncer nas mamas’ ou ‘câncer nas duas mamas’.
Mesmo assim, lamentável que as mamas só possam vir a público quando a mulher já está doente.
¹ Dicionário Eletrônico Houaiss
Ouvi como anedota. Entretanto, o cenário, o tema e a insolência para com o homem humilde provocaram em mim uma reação ética e uma reflexão filosófica.
Um barqueiro ganhava seu sustento transportando pessoas para a outra margem do imenso rio. Não havia pontes. Era o único meio de transporte disponível. Em geral, transportava pessoas conhecidas, moradores das redondezas ou alguém que queria visitar algum familiar que morava além da outra margem.
Porém, num final de tarde, um homem com aspecto muito diferente dos ribeirinhos contratou uma travessia. As roupas e a pasta demonstravam ser uma pessoa da cidade. Mais que isso, cheio de si, parecia orgulhoso, cheio de si, semostrador.
Logo que a canoa saiu do embarcadouro, perguntou:
– Você conhece a Grécia?
– Grécia? Ela mora por aqui?
– Não, não. Não é uma mulher. A Grécia é um país distante e muito importante, porque foi lá que nasceu a Filosofia. Você deveria conhecer. Você não sabe o que está perdendo…
O humilde barqueiro baixou a cabeça. O objetivo dele era bem simples: levar pessoas de uma margem à outra.
– Você sabe Filosofia?
O barqueiro continuou remando, desinteressado dessa outra… possível … Seria outra nação? Seria uma mulher? Uma cidade?
Mesmo entendendo o silêncio e percebendo a inutilidade de lições, o homem explicou:
– A Filosofia investiga os princípios, os fundamentos e as essências da realidade imanente. Você não sabe o que está perdendo…
O barqueiro nem deu ouvidos; permaneceu atento à força da correnteza e aos movimentos arriscados do passageiro que podiam jogar água pra dentro da embarcação.
– Você sabe por que o avião consegue voar?
Pobre homem!!! Nem sabia da existência de aviões… Via muitos pássaros voarem… Até as folhas secas voam levadas pelo vento… Mas… avião… nem imaginava…
– Não. Não sei, não.
– Você não sabe o que está perdendo…
O barqueiro se sentiu mais pobre ainda… Nada possuía e ainda estava perdendo muita coisa…
– Você já leu Lucas Visentini?
– Lucas, eu conheço. Mas, ler o Lucas… Lá isso eu não sei.
– Você não sabe o que está perdendo…
O homem estava mesmo espezinhando o seu transportador.
– Qual a voltagem da energia elétrica por aqui?
O barqueiro ficou ainda mais confuso. Energia, ele até sabia o que era… Voltagem? Seria a volta de alguém? De dona Elétrica, talvez… Tem cada nome por aí…
– Nunca ouvi falar…
– Você não sabe o que está perdendo…
E assim, enquanto o barquinho singrava as turbulentas e agressivas águas do imenso rio, seguiu o desdenhoso interrogatório.
Além dos perigos naturais de se navegar a imensidão do rio em uma minúscula canoa, um iminente naufrágio ameaçava a vida de ambos, por causa da imprudência do passageiro.
No limite de sua paciência, o barqueiro perguntou agressivamente:
– O senhor sabe nadar?
– Nunca precisei aprender… – ironizou.
– Se continuar enchendo a igara de sabença e saracoteando sem parar, a canoa vai virar e o senhor vai perder tudo o que sabe. Até a própria vida…
Nada lembramos do que vivemos
– inconscientemente –
nos primeiros anos de vida.
.
Da infância à adolescência,
agimos mais por impulso
que por raciocínio lógico.
.
Aos poucos, vamos tomando consciência
de nossos acertos e de nossos erros
e passamos a refletir antes de fazer,
acreditando que construímos o destino
com nossas escolhas, sem responsabilizar
o azar ou a sorte por fracassos ou sucessos.
.
Se planejarmos o que iremos fazer
e analisarmos o que fizemos,
poderemos reduzir o volume de erros
e viver sem tantas decepções.
.
À medida que envelhecemos,
passamos a pensar mais sobre
o cada vez menos que podemos fazer.
Substituímos espontaneidade e ingenuidade
por responsabilidade crítica.
Para Marlene Tessari
Sabedoria de quem une retalhos
para vestir pessoas ou
para pavimentar caminhos.
O poeta alinhava palavras desiguais
em frases estendidas sobre poemas-mosaicos.
Nossas realidades não surgem
como surpresas monolíticas ‘caídas do céu’
ou como criaturas fantásticas que emergem
das águas plácidas de lago desabitado.
Ao contrário:
cada um de nós compõe e recompõe
a realidade (em que imagina viver)
ao organizar e reorganizar fiapos do passado
com novidades que criamos por força de viver.
O tecido resultante dessa costura
sempre será híbrido: mosaico de fragmentos,
com lembranças, ilusões e propósitos.
A realidade individual que inventamos
para nos sentirmos ‘com os pés no chão’
mais parece taipa de pedras irregulares
ou parede de tijolos desiguais
do que estátua de bronze único,
de cor uniforme e aparência morta.
Por incrível que pareça, os problemas e as soluções didáticas continuam sendo os mesmos.
A maioria dos instrutores, treinadores, professores e facilitadores ainda continua “dando aula” para si mesma. Doam ou vendem, sem entregar, o ‘saber deles’, a sabedoria particular. Ou seja, a maioria se coloca como centro do processo. Mais que isso: se coloca como quem sabe.
Óbvio, as tecnologias estão cada vez mais diversificadas e mais aprimoradas. Todavia, a didática (pedagogia ou competência oratória) é muito mais um modo como os profissionais buscam, organizam e aplicam as tecnologias, os conteúdos, os fazeres, as pesquisas ou experiências do que a soma de genialidade, tecnologia disponível e sabedoria acumulada.
Existe um número estatístico que aponta para 16% de alunos ou professores realmente conscientes de suas funções e de suas responsabilidades. Dias atrás, troquei mensagens com o autor de um artigo publicado em Profissão Mestre, nas quais eu afirmo que essa era a parcela de pessoas (alunos e professores) que estavam na escola antes de 1967, ano da reforma do ensino que passou a considerar obrigatória a matrícula de todos os jovens de 7 a 14 anos. (Hoje, é dos 6 aos 17 anos) Atualmente, 16% dos alunos e dos professores continuam na escola por opção; os demais, por obrigação.
O som da própria voz é sedutor, encantador. Isto dificulta imensamente a ação do
pedagogo ou de qualquer um que se propõe a ensinar algo pelo canal da fala.
Penso que nossos movimentos também nos encantem; somos vaidosos e acometidos de narcisismos, permanentes ou temporários. Como vencer nosso umbigo e chegar aos outros? Como dosar nossa necessidade de expressão para que ela sirva ao intuito de ensinar?
O poder sempre é sedutor. Políticos, professores e sacerdotes recebem muito poder e – no mais das vezes – confundem a importância da atividade com a importância pessoal, provavelmente, bem menor. Por exemplo, um locutor de rádio ou de televisão acaba envolvido pelo poder da palavra … que nem é dele, é alheia, escrita pelos redatores, lida e logo esquecida. O poder é da média (mídia). Entretanto, muitos se iludem pensando que eles ‘são O Poder’.
Eu mesmo, ao escrever, preciso ter consciência de que as ideias são sempre obras coletivas, geradas no embate intelectual, e não individuais, como que espontâneas. Não. Nunca. Sem o desafio, nós dois – e todos os demais humanos – não pensaríamos, falaríamos e escreveríamos textos edificantes. Você é provocação. Eu sou provocação. Os fatos nos provocam e … no confronto das opiniões, construímos ‘grandes’ ideias. Por isso, os que não aceitam contradições nada criam. Para germinar, a criatividade precisa do diferente, do oposto, do inusitado, do ridículo, do incompleto… O inédito nasce da diversidade e da discordância.
Podemos mudar de apartamento, casa, bairro, cidade, região, país, … Talvez, … de planeta…
Impulsionados por insatisfações, saturamentos, esgotamentos, tragédias, expulsões, aversões ou oportunidades.
Podemos deixar o indesejado, algo do que fomos, apelidos, relações, humilhações, perseguições, limitações espaciais ou emocionais.
Em busca de horizontes amplos, harmonia interna, familiar, social ou comunitária: melhores condições de vida.
Podemos mudar de residência e aproveitar para mudar de vida.
Ou, ingenuamente, carregar conosco idiossincrasias, ilusões, manias, comportamentos, …
Assumindo os mesmos papeis, repetindo hábitos prejudiciais, reconstruindo o desagradável…
Ou podemos aproveitar a mudança para mudar a nós mesmos, abandonando ‘verdades’, replantando esperanças e concretizando sonhos.
Cada um de nós, ao recordar fatos passados, olha, vê e reage de modo diferente. Podem ser olhares bem diversos (de trágicos a divertidos): olhar ascendente (do passado para o futuro), olhar descendente (o passado visto no momento presente), olhar horizontal (analisar e comparar os viventes durante o passado, durante o presente e imaginar como viverão no futuro), olhar subjetivo (do próprio vivente) ou olhar objetivo (visão de outro).
Por isso, diferentes aspectos podem ser vistos no mesmo fato. Depende de quem avalia e dos critérios de avaliação. O mesmo evento do passado pode ser visto e classificado como natural, normal, inusitado, estúpido, saudoso, afetuoso, aversivo, alegre, triste, ditoso ou traumático. Depende do ponto de vista de quem viveu o evento, de quem presenciou, de quem participou ou de quem ouve o relato.
As boas lembranças são rememoradas com prazer e com o impossível desejo de reviver aqueles momentos. Dos lutos, ressuscitam tristezas. Os traumas podem voltar e se instalarem maiores, se crescerem com o tempo.
Muitos os traumas, inúmeras as teorias e variadas as terapias. Alguns profissionais da cura indicam tratamento medicamentoso, outros indicam a hipnose, a regressão mental e a meditação. Cada qual com suas fés e com suas promessas. Assim, podemos acabar curados, intoxicados ou neuróticos. Podemos nos livrar dos pesadelos, nos viciar em drogas, nos perder nos labirintos das anamneses ou aprofundar a piedade de nós mesmos (depressão). Maior risco se, no presente, estivermos reinventando, verbalmente, o nosso passado e/ou o passado dos outros.
Além disso, podemos caminhar ao lado do analisado, confirmando suas percepções e seus traumas, ou nos pôr diante do caminhante, como um pequeno espelho que mostra uma fresta do passado sobre o largo campo do presente.
Na Nossa Escola, projeto pedagógico aqui ao lado em 2007, as pessoas falavam muito do tempo que passaram fome, que precisavam “comer bolinhos de terra”. Eu poderia me esforçar para sentir como eles se sentiram ao comer bolinhos de terra (empatia) e reforçar, nas mentes deles, os dramas que viveram. Preferi ajudá-los a viver intensamente esses lutos por uns momentos (resgatando e, logo, consumindo o passado), para, a seguir, desconstruir as lembranças ruins com boa dose de racionalidade; racionalidade que faltou aos nossos antepassados e que pode nos ajudar a evitar outras fomes e outras tragédias.
Mais que filhos da ontogenia (formação biológica e psicológica do indivíduo humano), os monstros pretéritos que nos perseguem são produzidos pela cultura, seja ela familiar, comunitária, social ou étnica. Pretérito, do Latim, praeter(tus): deixado de lado, omitido, passado, … No caso, monstros que podemos deixar de lado, omitir. Ou não. A maioria abandona o passado e vive o presente. Consciente ou inconsciente. Porém, acidentes, assaltos, roubos, tragédias, suicídios, estupros e traições podem perdurar no presente e invadir o futuro.
Para as pessoas que padecem com sombras do passado, o sofrimento psicológico é real, desgastante. Pode ser até letal. Exemplos: o assassinato dos pais pode provocar a vingança dos filhos; um suicídio pode levar a novos suicídios. Porém, podemos nos esforçar para ajudá-las a analisar a cultura em que estavam imersos, sob a luz de tendências atuais de ortotanásia e do direito que as pessoas têm viver do seu jeito ou de desistir da vida. Esse exercício psicológico pode diluir o sofrimento que foi inevitável no passado, mas que pode ser modificado a partir do presente.
Seria ilusório e pretencioso comparar traumas, alegrias, euforias e sofrimentos alheios. Muito mais ilusório e pretencioso comparar esses sentimentos. entre si (pessoas ou sentimentos) ou comparar nossas experiências com as experiências dos outros. Quem foi mais feliz? Quem sofreu mais? Os que perderam os pais quando criança? Os que nem conheceram o pai? Os que foram sobrecarregados com responsabilidades? Os que sofreram abusos? Os pobres? Difícil contabilizar… Depende de cada mente, de cada equação mental.
Ou seja, melhor ajudar a diluir as reminiscências do que favorecer a ressonância emocional. A diluição de pensamentos negativos proporciona mais benefícios que cultivar a dor.
Aproveito o título da Deutsche Welle¹, a entrevista de Michael J. Sandel² para Pablo Guimón e minhas conversas com Cecília Kotzias e com Maria Elisa Ghisi para eu expor ideias sobre a função das escolas na reprodução das classes sociais. Agradeço as contribuições.
***
As pessoas podem aprender sozinhas, por incentivo e orientação da família, na parceria com outros aprendizes ou recebendo as informações científicas ministradas por professores em instituições de ensino. Podem aprender, espontaneamente, por curiosidade e podem, intencionalmente, pesquisar, experimentar e/ou tentar aprender por necessidade, para resolver um problema. Podem ser obrigadas a aprender por pressão dos familiares ou por determinação legal. Podem aprender práticas e desenvolver habilidades; podem descobrir e inventar. Podem aprender teorias proveitosas ou … inúteis.
Aprender faz parte do estar-no-mundo, do estar vivo. Todos os seres vivos aprendem. O ser humano aprende durante toda a sua vida, mesmo que inexistam governos, ideologias e instituições escolares. O aprender é inerente à natureza humana.
Sendo natural (ou, exatamente, por ser natural), o aprender pode ser usado para influenciar pessoas e/ou exercer dominação social. Seja nas famílias, nas comunidades ou nas nações, os indivíduos dominantes (ou os que pretendem dominar) utilizam o aprender para disciplinar os submissos, para submetê-los ao seu controle. A intensidade e o volume de controle exercidos determinam o grau de liderança e o grau de autoridade.
Podemos considerar que a aprendizagem conduzida receba o nome de ENSINO (transmissão de princípios que regulam a conduta humana e a vida em sociedade; educação [Houaiss]).
Ensino familiar (pelos pais e avós), ensino tribal, ensino empresarial e ensino religioso podem ser exemplos de ensino informal, tácito, ‘privado’, restrito, facultativo. Cada clã, comunidade ou sociedade exerce o direito de promover e de aperfeiçoar sua cultura (conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos, costumes, … que distinguem um grupo social [Houaiss]).
Por outro lado, o ensino oficial obrigatório é ferramenta governamental para ‘uniformizar’ a população, com o objetivo de controlar as índoles e de orientar a formação técnica, moral e cívica das futuras gerações. Educar, disciplinar, treinar, submeter, premiar e/ou subjugar para transformar crianças livres e alegres em cidadãos obedientes, sérios e produtivos.
O ensino informal e o ensino oficial são fundamentais para a convivência harmônica das pessoas em busca de melhores condições de vida. Nenhuma delas ocorre isoladamente; uma não exclui a outra; sempre se espera que se complementem. E, se houver sincronia entre essas duas ações educativas e se todas as crianças forem educadas em igualdade de condições, cada geração gozará de avanços técnicos e sociais.
No entanto, sempre houve, há e haverá luta pelo poder. E, quanto maior o conjunto de indivíduos sob o mesmo comando, maior a manipulação dos sistemas de ensino, seja no direcionamento estratégico, na exploração do trabalho, na coação por ameaças, na coerção de movimentos sociais ou na extorsão de contribuições e de impostos.
Ainda dentro da liberdade de analisar, podemos comparar a educação informal a uma oficina de artesanato em que o mestre-artesão permite que os discípulos opinem, inventem e modifiquem os processos e os produtos. Em oposição ao ensino ‘industrial’ que esmerilha cada criança para produzir ‘cidadãos em série’, meras peças da engrenagem política ou da lógica capitalista.
Em uma ‘escola artesanal’, a imaginação e os sentimentos das crianças podem criar obras inéditas, imprevisíveis, raras, até. Porém, esses artesões podem fugir do controle militar e/ou policial dos governantes e podem ‘contaminar’ o mercado com produtos irregulares, incomuns ou extraordinários, até.
Por outro lado, a produção em série, padronizada e com o descarte de ‘peças anormais’, facilita a ‘comercialização’ de ideias e de mercadorias. A palavra ‘padrão’ vem de ‘pedrão’, medida rígida estabelecida como modelo de medida. Na Idade Média, os padrões de peso e de comprimento eram pedras ‘oficiais’ que serviam de referência para aferir balanças e instrumentos de medição. Como se as pedras fossem imutáveis e, por isso, garantissem a regularidade das medidas.
A indústria alimentícia deve respeitar padrões em todos os aspectos, para fornecer alimentos idênticos. Com mesmo peso, mesmo gosto, mesma cor, mesmas substâncias, … Ou seja, comida sempre igual, repetida, sabor invariável, sem surpresas.
Por outro lado, os cozinheiros amadores, inconstantes ou indisciplinados, desrespeitam as medidas, manipulam e/ou substituem os ingredientes, alteram o ‘modo de fazer’ e adulteram as receitas. Cada bolo será inédito e surpreendente. Assim como os demais assados, cozidos e crus que mastigamos e engolimos.
Paradoxalmente, queremos que nenhuma ‘iguaria’ seja ‘igual’. Por que haveríamos de querer que todos os adultos sejam semelhantes, uniformes, insossos, padronizados?
Só existe Ciência nas clausuras do ensino oficial?
Com as abelhas-sem-ferrão e na culinária, nós praticamos e desenvolvemos “conhecimento científico”. O método científico pode ser usado por qualquer pessoa; o cientista não é o dono do método. E o ‘método científico’ não é de ‘uso privativo do cientista’. O “conhecimento científico” não é privilégio para diplomados por ‘universidades’. “A realidade está grávida de seu contrário.” A “Universidade” não é universal. Ao contrário, é elitista, privilégio de poucos. Tampouco, contém o saber universal. “Didaticamente”, seleciona as informações que melhor escondem o enigma do poder. Polinômios, por exemplo. Ou a lista de presidentes de uma república. Informações sem serventia… que, entretanto, mantêm as mentes ocupadas e alienadas.
Ah! O objetivo é a socialização das crianças. Será que o grau e a qualidade da socialização dependem diretamente do tamanho do rebanho? Digo, do tamanho das turmas e/ou da escola?
A socialização da criança ocorre no contato com os educadores e educandos. Estejam eles ligados pela Internet ou presos em salas de aula. As crianças (os jovens, os adultos e todos os seres vivos) aprendem envoltas em uma determinada realidade. Se as escolas forem depósitos de crianças, as crianças aprenderão a ser depósitos dos códigos de quem os deposita: autoridades, pedagogos ou pais. As crianças serão depositárias da cultura depositada.
Estudar numa ‘escola grande’ não garante um grande número de amigos. Viajar no ônibus escolar e participar da baderna coletiva parece não contribuir para a convivência cooperativa e harmônica dos futuros adultos. Ao contrário, a competição, o bando, o bullying, o individualismo, a solidão, a timidez, a vergonha, as críticas, a gozação, … a necessidade de acompanhar o rebanho arrasa (torna rasas, nivela) as individualidades. As multidões nos anulam. Quanto maior a multidão, mais oprimido me sinto.
Os limitados de contatos com poucos colegas e com os orientadores podem suprir nossas necessidades de afeto, de estímulo e de segurança bem mais que as intensas e ilimitadas gritarias das manadas escolares e dos discursos das complexas equipes pedagógicas dos grandes educandários. Quanto maior o exército, mais forte seu comandante, mais insignificante a importância do soldado.
Penso que a escola sonhada pela Cecília seja espaço propício ao desenvolvimento de relações limitadas, porém, reais, verdadeiras, respeitosas, interessadas, cooperativas e suficientes para construirmos “uma sociedade mais justa”.
Desde tempos imemoriais, as elites detêm os segredos intelectuais: feiticeiros, sacerdotes, … doutores, juízes, … A casta dominante recebe a ‘senha’ e a autorização (o diploma), mediante o ‘sacrifício’ de – muitas vezes – passar aulas ouvindo o ‘professor’ ler, durante um semestre escolar, sua tese de mestrado ou de doutorado.
Onde se concentram os títulos de doutorado? Nos hospitais (quarteis das doenças)? Não. No Fórum da Comarca (quartel das arbitrariedades)? Não. Se concentram nas ‘universidades’ (quarteis das diplomações acadêmicas). Cartórios da Ciência.
O título da terra, o título do conhecimento científico; a escritura pública, o diploma. Títulos oficiais, não testes de proficiência. Quem tem amplo conhecimento de mecânica… se prestar exames de proficiência, será aprovado… sem ganhar título de Engenheiro… que gera status e dinheiro. Muitos são eficientes nas funções que exercem. Entre dois coordenadores de equipe com equivalente desempenho, o que tiver título de capacidade será melhor remunerado.
Só podem filosofar os que frequentaram o Curso de Filosofia e receberam o diploma? Um biólogo, como Mia Couto, ou quem aprendeu escrever por conta própria podem escrever livros? Se eu tivesse o Curso de Letras com diploma conseguiria escrever esse texto? Os alunos aprendem melhor com quem tem Curso de Doutorado?
Terreno de posse vale menos. Terreno com escritura pública registrada vale muito mais. A utilidade do espaço permanece a mesma… Conhecimento científico COM DIPLOMA, título de sabedoria, rende mais… Todo conhecimento é muito útil.
As hortas comunitárias podem ser exemplos de campos experimentais com sucesso… por usarem conhecimento científico… não titulado… Quem certifica a Ciência do horticultor? Do caminhoneiro, do cozinheiro, do mecânico, do cabeleireiro, … A trupe do Circo Torricceli é genial e … não certificada… Não receberam diplomas.
Somos colônia norte-americana e podemos ser agentes, instrumentos de colonização. Temos que decidir entre seguir Donald Trump ou ouvir José Pacheco. Perigoso estar com um pé em cada continente. Mais que isso: com um pé em cada conteúdo ou com um neurônio em cada ideologia. E sobre o abismo social. Trump recolonizando e Pacheco tentando descolonizar.
As leituras de Marguerite Duras e de Mia Couto, além de surpresas literárias, revelam as tragédias do colonialismo francês na Cochinchina (Vietnã) e do colonialismo português em Moçambique. Leio as verdades históricas e não os estilos contundentes. Os dois “escrevem poesia”; eu leio o sofrimento humano causado pelo poder humano: as elites cultas explorando os escravos da ‘ignorância’… do ponto de vista dos colonizadores. Os vencedores que pouparam a vida dos derrotados se tornaram – moralmente – donos da vida deles.
Enfim, sonho que a pandemia do Covid-19 condene a escola tradicional ao passado e que consigamos evitar a reprodução comportamental da sociedade de consumo através da “linha de produção” dita “científica”, da formatação em série de pessoas ‘produtivas’, competitivas e vencedoras. A escola aceita e defendida pelos políticos são verdadeiras ‘fábricas de papel’, que fabricam e acumulam livros didáticos, monografias, teorias e diplomas (documento oficial que concede um direito, um cargo, um privilégio [Houaiss]), verdadeiras cargas mortas que carregamos para obter sucesso. Espero que a pandemia do Covid-19 acabe com esse modelo industrial. QUE AS CRIANÇAS SE EDUQUEM SEM SEREM EDUCADAS.
Enfim, sou um louco com uma lanterna e com uma lupa… Um antropólogo de mim mesmo… procurando uma sociedade igualitária, sem sacerdotes e sem analfabetos.
1 – Deutsche Welle, em 11 out 2020
2 – Jornalista Pablo Guimón, do jornal El País, entrevista Michael J. Sandel
Brasil.elpais.com, em 12 de setembro de 2020
<p style="line-height:0.4" value="<amp-fit-text layout="fixed-height" min-font-size="6" max-font-size="14" height="80">Brasil.elpais.com, em 12 de setembro de 2020Brasil.elpais.com, em 12 de setembro de 2020Eu admiro o voo dos pássaros. Posso passar horas, no templo da floresta, con-templando os pássaros em suas ousadias e em suas habilidades voláteis, que representam a real liberdade. Admiro, apenas… não quero estar com eles no ar, não pretendo imitar.
Admiro os heróis; fujo de heroísmos. Prefiro ser normal, passageiro, substituível e livre de idolatrias. Jamais eterno. Meu corpo e minha mente são finitos. Talvez, minhas ideias se propaguem e sobrevivam ao meu sopro vital…
Admiro o circo que está (des)armado aqui em frente. Admiro apenas. Por enquanto, sou plateia e auditoria. Logo, o circo seguirá seu espetáculo e eu permanecerei silvestre, parte da Natureza, convivendo com os bichos, plantando sementes.
Admiro a Primavera. Todavia, o encanto dela está – exatamente – na impermanência, na fugidade das estações e dos ciclos cósmicos. Se, o tempo todo, fosse primavera, já estaríamos cansados do eterno florir. A beleza das flores começa na esperança, no saber esperar, que inclui semear, plantar, regar, cuidar e imaginar. E as esperanças vegetam durante os invernos.
Procuro saber o que admiro; prefiro ter consciência do que vivo, do que quero continuar vendo de longe, do que quero viver integralmente no dia-a-dia. A beleza e a funcionalidade da vida estão na diversidade, na compreensão dos ciclos… semelhantes, porém, sempre modificados, diferentes em detalhes que fogem ao nosso entendimento. Depois de séculos, identificamos mudanças significativas.
Se chovesse o tempo todo ou se nunca chovesse, as plantas seriam extintas. A monotonia mata. A monocultura se autodestrói. Inclusive, a monocultura literária.
Viver para sempre seria a ‘morte de novas vidas’. A soberba humana pode pretender ser eterna; há quem acredite que sua estupidez seja insubstituível.
O inverno e o morrer são tão importantes quanto a primavera e o nascimento. A ressurreição, então, seria a arrogância de renascer em detrimento de outras vidas, de se intrometer nas gerações futuras. O Planeta Terra já está superlotado de homo-deuses; para sobreviver, precisa que ocorram muitas mortes definitivas, para dar espaço a novas existências. Quero viver plenamente o meu agora com o máximo senso de realidade: essa consciência de que sou único, limitado e efêmero.