Trecho do livro SUÇURÊ

“— Ele parecia temeroso com alguma situação...
— Você é ainda muito jovem para entender as redes de intrigas políticas... Podemos considerar que, para atender o pedido do deputado, o Coronel teria de se expor para o Juiz de Paz, pedindo favores que poderiam custar caro mais tarde.
— Quanto devo cobrar para ler e para escrever?
— Icobé, o preço das coisas depende mais da necessidade de quem paga do que do esforço despendido. Você pode carregar pedras para quem não precisa e, é claro, não vai te pagar por isso. No entanto, a carreira política do Coronel depende de um bom secretário.
— Mas, eu tenho apenas catorze anos...
— A qualidade do serviço independe da idade. O valor de teu trabalho será proporcional à utilidade dele; será tão importante quanto o problema que ele resolver. Nós nos fazemos profissionais ao resolver problemas. Mesmo sendo um menino, você pode resolver um grande problema do Coronel.
Icobé tomava consciência das responsabilidades da vida adulta e das complexas relações sociais, políticas e econômicas que se estabelecem mesmo que as pessoas não assumam o controle dos eventos. O livre arbítrio será sempre relativo: se a pessoa escolhe uma profissão e se prepara para ela, poderá exercer com maior competência a sua participação comunitária; se não assume as escolhas e não planeja as ações, acaba sendo escolhido e manipulado por outras pessoas e, até, pelas suas próprias necessidades.”
                                                                Pág. 62/63

PROPAGANDA

A propaganda nada faz; ela é feita.

 

Ela é feita para difundir o que alguns seres humanos

julgam ser importante para os outros;

para que os outros pensem e ajam de acordo com o propalado.

Muitas vezes, que os outros façam aquilo que eles mesmos não fazem.

 

Podem ser propagadas ideias, teorias, práticas, comportamentos, exemplos, …

No entanto, mais importante do que identificar o que é propagado

é saber a intenção de quem propaga.

 

Ideias podem ser verdades, mentiras, meias-verdades ou meias-mentiras.

As mentiras absolutas são vulneráveis ao discernimento.

Mas, como identificar a parte que é verdade e a parte que é mentira?

 

Infelizmente, a propaganda tem sido instrumento de enganação,

de impor meias-verdades com o objetivo de tirar proveito

da ingenuidade popular, da boa-fé das pessoas.

Tirar vantagens sociais, econômicas ou políticas.

E, tem pressa, pois precisa chegar antes que o espírito desperte

e analise com criticidade as falsas bondades.

 

A propagação de princípios éticos

independe de urgência e foge de absolutismos;

ela se fortalece na diversidade de pensamentos.

 

Nos meios de comunicação, em geral,

a propaganda tem a função de enganar,

de criar necessidades inúteis,

de explorar os incautos.

 

A propaganda ‘profissionalizada’ se alimenta de mentes ingênuas;

porém, enfrenta resistências nas mentes críticas.

Por isso, os profissionais das agências de propaganda,

principalmente da propaganda política,

precisam manter o povo na ignorância,

precisam garantir um rebanho de ingênuos.

Simultaneamente, campo para semear ilusões

e vetor para propagação de ‘epidemias ideológicas’.

 

Assim, os falsos líderes e os ídolos ocos

são plantados e cultivados em massas acéfalas.

A população domesticada passa a executar,

fielmente, as ideias desses charlatões.

Executa inconscientemente, hipnotizada,

incapaz de pensar criticamente,

de tomar decisões, de fazer escolhas.

 

Como as pessoas não pensam por si mesmas,

são pensadas pelos outros.

 

20:06h – 09.03.2011