A leitura de A CIÊNCIA DA MEDITAÇÃO (Daniel Goleman e Richard J. Davidson) motivou minhas pesquisas sobre o assunto; as informações complementares contribuíram bastante para estabelecer um entendimento básico sobre ‘meditações’.
Eu não conseguiria meditar ‘profundamente’, em posição de iogue, completamente imóvel, durante horas e anos. Por outro lado, posso concentrar minha atenção nas inspirações e nas expirações nos momentos que o exercício for útil para minha saúde e para minha tranquilidade. Fora isso, presto atenção à vida ao derredor respirando sem esforço e sem controlar. Fechar os olhos, em ambiente silencioso, e sentir cada parte do meu corpo, as sensações e os detalhes, pode ajudar na meta de conhecer melhor a mim mesmo.
Dos tipos de meditação que tive conhecimento, a que mais tenho interesse é ‘pensar sobre o que eu penso’. Ou seja, analisar os pensamentos que surgem (ou estão) em minha mente, “deixar ir” os inúteis e os prejudiciais, elaborar os que podem gerar ações positivas (para mim e para as pessoas com quem convivo) e, sem atropelos, agir efetivamente para que as ideias selecionadas sejam concretizadas.
***
Nos livros e nas pesquisas sobre estoicismo, encontrei a base para colocar em prática a maneira escolhida de aprimorar meu caráter e de reduzir a lacuna entre o que sou e o que poderei ser (entre meu eu cotidiano e meu ‘eu’ ideal).
Até há poucos anos, eu me sentia atacado pelos insultos do vizinho, mas, relevava porque considerava que aqueles gritos raivosos representavam o que ele era e não o que eu sempre fui. Talvez, conseguia me manter calmo e seguro porque a educação que recebi dos meus pais e de outros familiares me dava a solidez de uma árvore bem enraizada. Ou, talvez, eu já tivesse desenvolvido um comportamento ‘meio estoico’, resultado de leituras, de estudos, de convivências e de exemplos que eu sigo.
Agora, desejoso de praticar o estoicismo, vou impedir que os insultos e que as ironias penetrem em minha mente. Manterei guarda na entrada para analisar o que aceitarei e o que deixarei ir, sem me abalar ou dar importância às maldades alheias. As narrativas deturpadas, as leituras inúteis ou nocivas, as ofertas mercadológicas, as notícias invasivas (e as alienantes, também), as conversas ‘de salão’ e as provocações de prazer serão vistas como paisagens pelas quais passo sem guardar memória. Apenas, serão vistas como perigos externos a evitar.
O estoicismo me ajudou a concluir que o eleitor só pode ter o controle sobre seu voto (que será sempre sua responsabilidade) e não deve alimentar expectativas (muito menos culpa ou orgulho) do que os eleitos farão, porque, depois de exercer o direito de votar, o eleitor será apenas plateia para os políticos (administradores e legisladores). Promessas eleitorais são iscas para incautos. Nunca controlei e jamais conseguirei controlar as atitudes dos políticos.
Nada mais alienante que esperar que deuses resolvam nossos problemas ou alguém se auto coagir por temores divinos. Deuses são projeções em que a maioria dos humanos deposita sua necessidade espiritual. Alguns ‘iluminados’ criam deuses, com a “imagem e semelhança” deles, para servir de amparo nas dificuldades e de juiz benevolente de seus erros. Em alguns dos casos, multidões de adeptos carentes de proteção divina, candidatos a viver no paraíso ou espertalhões ávidos por dízimos entram no rebanho, onde sublimam seus vazios existenciais. Se não controlarmos nossas mentes, muito menos poderemos controlar as criações de nossas mentes.
Encontramos a ingenuidade extrema (às vezes, absoluta) nos torcedores de equipes futebolísticas, que chegam a brigar (matar ou morrer) pelo “seu time do coração”. Pior que o fanatismo religioso: os torcedores (e os apostadores, ainda mais irracionais) nem mesmo optaram conscientemente pelo clube pelo qual torcem ou até dão a vida por ele. Muito raro um torcedor que assumiu o fanatismo por alguma razão lógica; a maioria nem sabe como iniciou sua torcida por ‘aquele’ clube de futebol.
Ou seja, o torcedor nem mesmo teve controle sobre sua escolha. Ultrapassa, então, a ilusória segurança do eleitor ao colaborar com os candidatos: sem argumentação ou justificativa, entra inconscientemente nas torcidas (organizadas ou desorganizadas) e segue a multidão a esmo. Torce e se contorce imaginando que pode controlar os ‘cartolas’, os técnicos, os atletas ‘profissionais e, a maior idiotice, acredita que pode vigiar os árbitros e que pode intimidar os jogadores dos times adversários. O torcedor vibra com acasos futebolísticos.
Eu aponto essas ingenuidades sem deixar de me incluir no rol dos que deixam suas mentes ‘desguardadas’, pois algumas pessoas entraram na minha mente e me convenceram a depositar dinheiro na conta delas. No passado, sofri por essa e por outras tolices; gastei horas preciosas ouvindo narrações de eventos eleitorais ou esportivos e assistindo corridas automobilísticas. Também, muitas das minhas decisões (e indecisões) formam ingênuas, românticas ou até impensadas; me deixei enganar. Quero ser outro; quero ter consciência de minha consciência (metaconsciência).
Quem eu convido para entrar na minha mente? Os que me exploram e abusam da minha benevolência? Os que me desqualificam ou me insultam? Ou as pessoas leais, com as quais convivo nos momentos cotidianos e posso contar nas dificuldades? Ou os que podem contribuir na melhoria de meus pensamentos?
Se eu estiver consciente de que posso controlar, permitir ou negar o acesso à minha mente, poderei atrair e manter parcerias mentais, deixar passar tudo o que não me interessa e evitar que pensamentos negativos (meus e de outras pessoas) perturbem minha paz interior.