RESPONSABILIDADE CRÍTICA

Nada lembramos do que vivemos inconscientemente quando bebês. Durante a infância e a adolescência, agimos mais por impulso que por raciocínio lógico. Aos poucos, fomos tomando consciência de nossos acertos e de nossos erros. Passamos a pensar antes de fazer e a acreditar que nossas vivências são construídas por nossas escolhas e não por azar ou sorte.

À medida que envelhecemos, passamos a pensar mais sobre o cada vez menos que fazemos; substituímos ingenuidade e espontaneidade por responsabilidade crítica.

Se analisarmos o que formos fazer ou o que já fizemos, poderemos reduzir o volume de decepções e de fracassos, bem como, viver sem tantos sobressaltos e sofrimentos.

RESPONSABILIDADE CRÍTICA

Nada lembramos do que vivemos inconscientemente quando bebês. Durante a infância e a adolescência, agimos mais por impulso que por raciocínio lógico. Aos poucos, fomos tomando consciência de nossos acertos e de nossos erros. Passamos a pensar antes de fazer e a acreditar que nossas vivências são construídas por nossas escolhas e não pelo azar ou pela sorte.

À medida que envelhecemos, passamos a pensar mais sobre o cada vez menos que fazemos; substituímos a ingenuidade e a espontaneidade por responsabilidade crítica.

Se analisarmos o que formos fazer ou o que fizemos, poderemos reduzir o volume de decepções e de fracassos, bem como, viver sem tantos sobressaltos e sofrimentos.

A PORTA DA MENTE

A leitura de A CIÊNCIA DA MEDITAÇÃO (Daniel Goleman e Richard J. Davidson) motivou minhas pesquisas sobre o assunto; as informações complementares contribuíram bastante para estabelecer um entendimento básico sobre ‘meditações’.

Eu não conseguiria meditar ‘profundamente’, em posição de iogue, completamente imóvel, durante horas e anos. Por outro lado, posso concentrar minha atenção nas inspirações e nas expirações nos momentos que o exercício for útil para minha saúde e para minha tranquilidade. Fora isso, presto atenção à vida ao derredor respirando sem esforço e sem controlar. Fechar os olhos, em ambiente silencioso, e sentir cada parte do meu corpo, as sensações e os detalhes, pode ajudar na meta de conhecer melhor a mim mesmo.

Dos tipos de meditação que tive conhecimento, a que mais tenho interesse é ‘pensar sobre o que eu penso’. Ou seja, analisar os pensamentos que surgem (ou estão) em minha mente, “deixar ir” os inúteis e os prejudiciais, elaborar os que podem gerar ações positivas (para mim e para as pessoas com quem convivo) e, sem atropelos, agir efetivamente para que as ideias selecionadas sejam concretizadas.

***

Nos livros e nas pesquisas sobre estoicismo, encontrei a base para colocar em prática a maneira escolhida de aprimorar meu caráter e de reduzir a lacuna entre o que sou e o que poderei ser (entre meu eu cotidiano e meu ‘eu’ ideal).

Até há poucos anos, eu me sentia atacado pelos insultos do vizinho, mas, relevava porque considerava que aqueles gritos raivosos representavam o que ele era e não o que eu sempre fui. Talvez, conseguia me manter calmo e seguro porque a educação que recebi dos meus pais e de outros familiares me dava a solidez de uma árvore bem enraizada. Ou, talvez, eu já tivesse desenvolvido um comportamento ‘meio estoico’, resultado de leituras, de estudos, de convivências e de exemplos que eu sigo.

Agora, desejoso de praticar o estoicismo, vou impedir que os insultos e que as ironias penetrem em minha mente. Manterei guarda na entrada para analisar o que aceitarei e o que deixarei ir, sem me abalar ou dar importância às maldades alheias. As narrativas deturpadas, as leituras inúteis ou nocivas, as ofertas mercadológicas, as notícias invasivas (e as alienantes, também), as conversas ‘de salão’ e as provocações de prazer serão vistas como paisagens pelas quais passo sem guardar memória. Apenas, serão vistas como perigos externos a evitar.

O estoicismo me ajudou a concluir que o eleitor só pode ter o controle sobre seu voto (que será sempre sua responsabilidade) e não deve alimentar expectativas (muito menos culpa ou orgulho) do que os eleitos farão, porque, depois de exercer o direito de votar, o eleitor será apenas plateia para os políticos (administradores e legisladores). Promessas eleitorais são iscas para incautos. Nunca controlei e jamais conseguirei controlar as atitudes dos políticos.

Nada mais alienante que esperar que deuses resolvam nossos problemas ou alguém se auto coagir por temores divinos. Deuses são projeções em que a maioria dos humanos deposita sua necessidade espiritual. Alguns ‘iluminados’ criam deuses, com a “imagem e semelhança” deles, para servir de amparo nas dificuldades e de juiz benevolente de seus erros. Em alguns dos casos, multidões de adeptos carentes de proteção divina, candidatos a viver no paraíso ou espertalhões ávidos por dízimos entram no rebanho, onde sublimam seus vazios existenciais. Se não controlarmos nossas mentes, muito menos poderemos controlar as criações de nossas mentes.

Encontramos a ingenuidade extrema (às vezes, absoluta) nos torcedores de equipes futebolísticas, que chegam a brigar (matar ou morrer) pelo “seu time do coração”. Pior que o fanatismo religioso: os torcedores (e os apostadores, ainda mais irracionais) nem mesmo optaram conscientemente pelo clube pelo qual torcem ou até dão a vida por ele. Muito raro um torcedor que assumiu o fanatismo por alguma razão lógica; a maioria nem sabe como iniciou sua torcida por ‘aquele’ clube de futebol.

Ou seja, o torcedor nem mesmo teve controle sobre sua escolha. Ultrapassa, então, a ilusória segurança do eleitor ao colaborar com os candidatos: sem argumentação ou justificativa, entra inconscientemente nas torcidas (organizadas ou desorganizadas) e segue a multidão a esmo. Torce e se contorce imaginando que pode controlar os ‘cartolas’, os técnicos, os atletas ‘profissionais e, a maior idiotice, acredita que pode vigiar os árbitros e que pode intimidar os jogadores dos times adversários. O torcedor vibra com acasos futebolísticos.

Eu aponto essas ingenuidades sem deixar de me incluir no rol dos que deixam suas mentes ‘desguardadas’, pois algumas pessoas entraram na minha mente e me convenceram a depositar dinheiro na conta delas. No passado, sofri por essa e por outras tolices; gastei horas preciosas ouvindo narrações de eventos eleitorais ou esportivos e assistindo corridas automobilísticas. Também, muitas das minhas decisões (e indecisões) formam ingênuas, românticas ou até impensadas; me deixei enganar. Quero ser outro; quero ter consciência de minha consciência (metaconsciência).

Quem eu convido para entrar na minha mente? Os que me exploram e abusam da minha benevolência? Os que me desqualificam ou me insultam? Ou as pessoas leais, com as quais convivo nos momentos cotidianos e posso contar nas dificuldades? Ou os que podem contribuir na melhoria de meus pensamentos?

Se eu estiver consciente de que posso controlar, permitir ou negar o acesso à minha mente, poderei atrair e manter parcerias mentais, deixar passar tudo o que não me interessa e evitar que pensamentos negativos (meus e de outras pessoas) perturbem minha paz interior.

ETERNIDADES

Durante alguns milênios, os humanos cultivaram o sonho de eternidades infinitas, “omnia saecula saeculorum”. Do grego “εἰς τοὺς αἰῶνας τῶν αἰώνων” (eis tous aionas ton aionon), que significa “para sempre”, “por toda eternidade”.

No início da ‘nova era’, novo milênio (no calendário católico), a eternidade longeva da “paz celestial” foi substituída por viver, individual e coletivamente, tudo em poucas décadas, com dinamismo intenso, absoluto e desvairado.

Alguns intelectuais analisam outra interpretação de eternidade: a continuidade da ‘raça humana’, a perpétua sequência de gerações.

MEDO DE MORRER

Há 9.000 anos (desde 7.000 a.c.), os sapiens consultam oráculos, constroem tabernáculos e seguem profetas que prometem salvação; tudo para fugir da finitude, da consciência de que nada vive para sempre. Temos medo da morte; não queremos morrer. Animais e plantas lutam para não morrer (“impulso primitivo, pulsão vital, quando em risco de morte”); os seres microscópicos, também. O homo sapiens sapiens continua buscando alívios para seus temores ‘mortais’. Preferimos fazer de conta que não sabemos.

DE CORAÇÃO OU DE MENTE?

As pessoas (personagens do teatro da vida) acreditam (ou só repetem ingenuamente) que sentem com o coração. Que o coração é a sede dos sentimentos humanos. De fato, sem o coração, não sentiremos mais nada; quem “perder a barriga”, também. Leio e escrevo com o coração: quando ‘perder’ o coração, não mais lerei ou escreverei. Difícil alguém perder o coração, mas ele pode parar de bombear meu sangue e estarei morto.

Por que não dizemos ‘agradeço de pâncreas’ ou ‘agradeço de cotovelo’, ao invés de dizer “agradeço de coração”?

Se eu escrever que o sistema límbico do cérebro processa nossas emoções e nossos sentimentos, muitos leitores dirão que sou um insensível.

CHORAR, FALAR, ESCREVER, SILENCIAR.

Talvez, eu tenha conversado com minha mãe durante os últimos meses em que estive no útero dela. Talvez. Talvez, minha mãe falasse comigo e, também, meu pai e outros familiares. Talvez, eu tenha sentido o ambiente externo, ouvido vozes, percebido afetos, … Talvez.

Acredito que chorei ao aspirar o primeiro ar. E que continuei chorando até compreender que falavam comigo e reagir com ‘grunhidos’, monossílabos copiados do que eu ouvia. Em seguida, pronunciei os primeiros dissílabos possíveis de interpretar e, depois de meses, aprendi as primeiras palavras.

Durante décadas, desenvolvi a oralidade, a leitura e a escrita, que foram muito úteis para minha sobrevivência, para conquistar autonomia, para escrever textos (e até livros), expondo meus pensamentos, meu modo de estar no mundo.

Continuo revelando minha vida interior, porém, escolhendo as palavras, revelando menos minhas análises, ouvindo as contestações, esperando bastante para interagir, limitando interlocutores e assuntos. Disponibilizo o que falo ou escrevo para quem quiser ouvir ou ler.

Irei silenciando aos poucos … até o silêncio final.

DEUS SALVE O REI

dEUS salve o rEI

Minha postura é indigna? Seria uma questão política? Salvar a Nação?

Não. Não contem comigo para salvar a Pátria, o Rei, os ministros, os cortesões, os sábios, as concubinas, os sacerdotes, os conselheiros, os pajés, …

Estarei na plateia, rindo dos ridículos governantes.

Peço que me contestem nas divergências… mas… não vale a pena nos indispor por questões políticas.

Vivi sob a égide de uns quinze presidentes, outros tantos governadores e mais prefeitos (não, perfeitos). Pouco tempo perdi “salvando o mundo”. E foi tempo perdido.

Governos são como o clima, as estações, as eras, … Reclamo deles, ironizo seus feitos e efeitos, porém, me adapto às ETERNAS MUDANÇAS… que sempre se repetem.

E eu… procuro não me repetir; vivo ao alcance da minha aura… uma única vida.

A PENÚLTIMA ORAÇÃO DO PAI-NOSSO

O pai-nosso é um texto composto de dez orações sintaticamente coordenadas e subordinadas; muito rezadas e reoradas.

Começa com “Pai-nosso, que estais no céu, santificado seja vosso Nome, …”. Exprime o desejo de que seu Nome seja santo; não ele próprio (deus), apenas o Nome. Muito menos o rezador…

“Pai-nosso, que seja santificado vosso Nome” é oração grávida, pois, traz, dentro de si, a oração subordinada adjetiva explicativa “que estás no céu”, esclarecendo que o orador (aquele que ora) está se dirigindo ao pai divino e não ao pai pecador que mora em casa. Importante ressalva, porque os ‘órfãos de pai’ podem ter dois pais no céu: um divino e um cristão. Isso, se o pai terreno, antes de morrer, se arrependeu dos pecados… Ou, talvez, esteja pedindo ao pai divino que corrija o pai humano nada santo, porque comete muitos pecados.

“Venha a nós o vosso reino e seja feita vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia, nos daí hoje e perdoai nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixeis cair em tentação… Mas, livrai-nos do mal.”

Sempre rezo “Livrai-nos do mal” (repito, para mim mesmo e para os outros), a penúltima oração do Pai-nosso (palavra composta; nem pai, nem nosso; apenas o nome próprio da oração) que finaliza com “Amém”, do Hebraico, “assim seja”, declarando a nossa fidelidade e o firme propósito de acreditarmos no que falamos.

Para nós, temorosos humanos (que praticamos o temor a Deus…), reservamos a penúltima oração: “… livrai-nos do mal.” Rogamos que nos livre do mal alheio, parece… Embora (síncope de ‘em boa hora’), possamos sucumbir aos males que causamos a nós mesmos.

O pai-nosso é uma invocação – isso mesmo, uma (in)vocação –, uma não-vocação cristã, que representa a alienação pela fé, a abdicação de assumir a vida real, delegando a um deus as responsabilidades pessoais.

A vocação, ação de chamar de viva voz, apelo, chamamento, pendor, parece insuficiente. Então, os fiéis, conscientes de que não têm vocação, invocam a proteção divina, de deuses que eles mesmos edificam. Se tornam invocados, cismados, desconfiados da própria fé, preocupados, irritados e coléricos, até.