O TEMPO DA VIDA


A vida tem o tamanho dela
e não o tamanho que eu quero:
é aquele tanto... e só.

Posso ter alguns amigos,
mas não todos os que gostaria de ter.

Muitas pessoas vivem ao meu redor,
mas só consigo conversar com algumas;
não dá tempo de conversar com todas.

São tantas as palavras
a serem ditas a tantas pessoas,
mas o tempo da vida
só me permite que diga algumas;
aquelas possíveis.

O dia tem esse tanto... e não mais.
Só posso fazer o que cabe no dia...
o resto ficará por fazer.

Cabe na vida, a vida que eu vivo;
o resto será, para sempre,
sonho e vontade de viver.

São poucas as árvores
que consigo plantar em uma vida;
o resto ficará na semente,
esperando por nascer...

As palavras escritas são
o tanto que consigo escrever
e não todas as desejadas.
Nem todas as poesias,
nem todas as prosas
que nascem em minha mente
serão escritas... somente serão
as que couberem na vida.

Nem todo amor que posso será amado;
só um tantinho assim... não dá tempo...
o resto ficará na esperança de amar.

Impossível ler todos os livros,
ver todos os filmes,
viajar todas as viagens...

Por mais que eu queira
responsabilizar o tempo,
a escolha será sempre minha:
o quanto eu sonho,
quantos sonhos realizo,
o que desejo viver,
o que de fato vivo...

Tudo são escolhas...
dentre infinitas possibilidades.

A MULHER DA MULHER

A mulher que mora em você
espia pelos poros,
fala pelo hálito;
impregna a pele,
dá calor à imagem,
ilumina a ilusão.

A mulher que mora em você
canta o silêncio e
sorri o prazer
(momentos de ternura
vertem dos olhos
em quente vendaval).

A mulher que mora em você
se contorce em desejo,
dança de ansiedade;
se esparrama pelo ar, 
ignora a distância e 
alcança o amar.

A mulher que mora em você
navega nas mãos,
afoga em carícias;
afaga a alma,
embala o sonho e
adormece em mim.

ANOTAÇÕES GRAMATICAIS

PARA USO PESSOAL do Mario Tessari.

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                                       ANOTAÇÕES GRAMATICAIS PARA USO PESSOAL
                                                                               do Mario Tessari

   Especialistas em gramática assumem o papel de policiais e avocam para si o direito de disciplinar as escritas dos usuários da Língua Portuguesa. Para sorte dos falantes, ainda há alguma liberdade na prosódia, na ortoépia e na ortofonia.
   A maioria dos gramáticos categoriza todos os sinais impressos como ‘ortográficos’. A Ortografia disciplina a grafia ‘correta’ das palavras, usando as letras do alfabeto latino conforme um conjunto de regras estabelecidas pela gramática normativa. Algumas palavras recebem sinais gráficos complementares usados para indicar valores fonéticos específicos para determinadas letras: os acentos (agudo, grave ou circunflexo), o cedilha, o til e o trema; o hífen une elementos de palavras compostas.
   No entanto, os sinais ‘de pontuação’ (vírgula, ponto, dois-pontos, ponto-e-vírgula, ponto de exclamação, ponto de interrogação, reticências, parênteses, aspas e travessão), criados para facilitar a leitura e o entendimento das ideias, são utensílios da Sintaxe (conjunto de regras da estrutura linguística) e da Análise Sintática (estudo das funções das palavras e das orações em uma frase).
   Por exemplo, a vírgula pode substituir a conjunção ‘e’ na função de unir “vocábulos ou orações de mesmo valor sintático” [Dicionário Eletrônico Houaiss]. Ao invés de escrevermos: ‘Anna e Marcos e Tadeu estão lendo essa análise.’ e ‘José preparou a terra e plantou as sementes e adubou as plantas e colheu boa safra.’, podemos escrever ‘Anna, Marcos e Tadeu estão lendo essa análise.’ e ‘José preparou a terra, plantou as sementes, adubou as plantas e colheu boa safra.’, evitando, assim, a repetição excessiva da conjunção ‘e’.
   A Ortografia estabelece regras ‘oficiais’ de como as palavras devem ser escritas, diferenciando ‘escritas populares’ de ‘escritas eruditas’. Porém, não prescreve padrões de sintaxe, de textos ou de estilos literários.
   Os professores de gramática são formados por academias científicas com a responsabilidade de professar a ‘pureza gramatical’ e as academias literárias escolhem seus membros dentre os que obedecem a padrões eruditos, como a ortografia e o formato dos textos (prosa, poema, conto, novela, romance).
   Os linguistas analisam a funcionalidade da linguagem falada e/ou escrita, a evolução e a diversificação dos sistemas de representação do pensamento humano.

                                      A PONTUAÇÃO NA PRÁTICA LITERÁRIA

   Posso usar dois-pontos (:), ponto-e-vírgula (;) ou ponto e vírgula (. e ,). Na prática, uso vírgula e ponto (, e .), nessa sequência. Nas frases, uso vírgula para separar ideias que complementam a oração principal, ponto-e-vírgula para incluir ideias divergentes ou paralelas, ponto para indicar que completei o enunciado e ponto-final para encerrar o assunto.
   Ao afirmar que o ponto-e-vírgula (;) é “sinal de pontuação que indica pausa mais forte que a da vírgula e menos que a do ponto”, o dicionarista obrigaria o gago a colocar ponto-e-vírgula a cada ‘pausa gaguejada’, além de uma procissão de vírgulas, para as pausas ‘menos fortes’. O especialista deixa outro desafio: mensurar as pausas (“mais forte que a da vírgula e menos que a do ponto”). Imagino que as pausas possam ser breves ou longas. Como seriam pausas fracas ou fortes?
   Mais preocupantes ainda são as afirmações que a vírgula é uma “ligeira pausa para respirar”. Provavelmente, esses autores sejam biólogos preocupados com nossa fisiologia respiratória.

                                                 RETICÊNCIAS

   As reticências, além das funções técnico-linguísticas, podem ser usadas como recurso estilístico. Vai depender se as reticências são dúvidas da palavra… ou indecisões das ideias …
   No caso, estou indicando ceticismo, dissimulação, hesitação, indeterminação da palavra… ou a omissão de algo que deixo de escrever para que o leitor continue … a frase por conta dele. Ou seja, deixo o leitor decidir como continua a ideia.
   Também uso reticências para indicar uma ‘pausa emocional’ (aposiopese) ou uma insinuação.
   Nesses trechos de Suçurê, aparecem reticências em:
“— Vejo que a aliança ainda está no dedo… Logo … para o povo daqui,  a situação continua na mesma: só mistério.” (P. 485)
“— Mesmo assim, o Icobé vai ficar sozinho e não sabe lidar com o gado; a gente vai deixar tudo organizado, pra ele apenas atender alguma eventualidade. Por falar nisso, seria bom se você, Icobé, pudesse dar seu passeio de reconhecimento agora pela manhã porque cismo de saber que você saia por aí sozinho… Pode lhe acontecer algo e … – opinou Genuíno.
— Boa ideia! Vou encilhar o Zaino e dar uma volta pela invernada. Mas não demoro… – concordou Icobé.” (P. 504)
“— Tem que ver… – ponderou o capataz. Eu devo me afastar por uns dias… O João não pode ficar solito por muito tempo…
— Si desse … fais tempo qui num falo c´a mana Maria Rosa … – choramingou o Silvino.” (P. 505)
“— Não sou eu que procuro antes de ser chamado. São eles que me perturbam com vozes estranhas…
— Estranhas, porém bem audíveis, claras, pois indicam quem é e o local exato em que estão …” (P. 605)

                             O USO DA VÍRGULA ANTES DO PRONOME RELATIVO ‘QUE’

1. Os senadores que foram eleitos no último dia 15 tomarão posse hoje.
2. É difícil encontrar os gatos que fogem de casa durante a noite.
3. O povo cobra dos senadores, que foram eleitos democraticamente, a responsabilidade política.
4. Os gatos, que são venerados desde o tempo dos faraós, preferem viver livres, sem coleiras.
   Nas duas primeiras frases, o pronome ‘que’ indica a delimitação dos sujeitos, através de oração subordinada restritiva, com função de adjunto adnominal da palavra antecedente, indispensável para expressar o sentido pretendido. Sem vírgula; ligadas diretamente aos sujeitos das orações.
1a. Apenas os senadores que foram eleitos no último dia 15 tomarão posse hoje.
2a. É difícil encontrar apenas os gatos que fogem de casa durante a noite.
   Nas duas últimas, o pronome relativo ‘que’ é usado para iniciar uma explicação (oração subordinada adjetiva explicativa); oração opcional que acrescenta uma informação complementar, com características dos sujeitos, que continuam os mesmos. Deve ser escrita ‘entre vírgulas’.
3a. O povo cobra dos senadores[, os quais foram eleitos democraticamente,] a responsabilidade política.
3b. O povo cobra dos senadores a responsabilidade política.
4a. Os gatos[, os quais são venerados desde o tempo dos faraós,] preferem viver livres, sem coleiras.
4b. Os gatos preferem viver livres, sem coleiras.

                                          USO DE LETRAS MAIÚSCULAS

   Escrevo siglas em letras maiúsculas. Uso letras maiúsculas para iniciar nomes próprios; tecnicamente, substantivos próprios. Escrevo Antônio (nome da pessoa) e os antônios (todas as pessoas de nome Antônio); o Brasil e os vários brasis; o Estado (substituto de substantivo próprio) e os estados (substantivo usado para designar nações em comum). 
   Uma palavra composta é um vocábulo resultante da junção de duas ou mais palavras. Se uma palavra composta exercer a função de substantivo próprio, deverá ser grafada com letra inicial maiúscula: Serra-abaixo, Serra-acima, Baia-norte, Baia-sul, …

                                             EXEMPLOS DE USO DE HÍFEN

   Abelha-sem-ferrão é palavra composta (substantivo) que nomeia abelhas com uma característica específica: uma espécie de abelha. E abelha sem ferrão é locução substantiva usada para designar a abelha que perdeu o ferrão.
   Se for nome da espécie, deve ser escrito ‘uruçu-amarela’. Se determinada espécie de uruçu tiver indivíduos uns pretos e outros amarelos, haverá abelhas uruçu pretas e abelhas uruçu amarelas. Mirim-guaçu preta e mirim-guaçu amarela; manduri preta e manduri amarela; porque as espécies são denominadas mirim-guaçu e manduri, respectivamente.
   É questionável que os meliponíneos não possuam ferrões; todavia, com certeza, não ferroam. Logo, a locução deveria ser: abelha que não ferroa. Abelha-sem-ferrão ou abelha-da-terra: espécie de abelhas dos gêneros melípona, trigona, …     Uma abelha do gênero Apis que deixou o ferrão em alguém será uma abelha sem ferrão. Se os chifres de um boi forem decepados, teremos um boi sem chifres. Os que já nascem mochos serão bois-sem-chifres.
   Batata-doce é uma espécie vegetal; batata doce pode ser uma batata adoçada. Boca-de-leão: uma flor; boca de leão: a abertura inicial do tubo digestivo do ‘rei dos animais’. Copo-de-leite nomeia uma flor e ‘copo de leite’ é uma porção de leite que pode estar num copo ou em outra vasilha; a expressão se refere à quantidade do alimento. Ponto-e-vírgula nomeia um sinal de pontuação; ponto e vírgula são dois sinais de pontuação.
   Mesmo depois da última Reforma Ortográfica, as palavras compostas que designam espécies animais ou vegetais continuam sendo grafadas com hífen: bem-te-vi, copo-de-leite, boca-de-renda, porco-bravo, porco-do-mato, aroeira-folha-de-salso, uruçu-boi, formiga-açucareira, formiga-cabeça-de-vidro, …

                                                  SEO OU SEU

   A palavra ‘seu’ é pronome possessivo.
   Eu uso ‘seo’ para traduzir a pronúncia caipira de ‘senhor’. A fala coloquial abrevia as palavras, ‘comendo letras’, economizando tempo e voz, através de síncopes, pronunciando apenas as ‘essências’ da palavra. Maior / mor, senhor / seo, está / tá, estive / tive, embora / em boa hora, … Logo, ‘seo’ – síncope da palavra senhor – é pronome de tratamento. Da mesma forma, ao transcrever falas, uso sinhá ou siá, para designar senhora. Quem escreve ‘seu’ José, deveria, também, escrever ‘sua’ Maria em vez de escrever ‘dona’ Maria.

                                                    ETCÉTERA

   Et cetera, do Latim, significa “e outras coisas, e assim por diante, …”
   A abreviatura (etc.) já vem precedida do conetivo ‘e’ (et). Logo, não uso vírgula antes de ‘etc’. Aliás, uso reticências ao invés de usar etcétera. Deixo o ‘et cetera’ para os romanos. Sou de época mais recente.

                                                     ASPAS

   Uso aspas duplas para indicar trecho de outro autor ou de outro texto meu. Para destacar palavras ou expressões, uso aspas simples, caracteres em tipo itálico ou palavras em caixa-alta.

O SONHO DA VIDA

O sonho é a fonte

de toda realização.

.

Realizar o sonho

é tornar real a ação;

é agir sobre a realidade.

.

Nada será realidade

sem antes ter sido sonho.

Nada é realizado

sem antes ter sido sonhado.

.

O sonho é a semente

da realidade desejada;

sem sonho, não há gênese.

.

O sonho atrai energias,

concentrando no sonhador

as condições para a germinação.

.

O sonhador é o chão em

que nasce e cresce o sonho.

É preciso acreditar,

persistir e ter paixão.

.

Inicialmente, o sonho

sobrevive por si só.

Depois se alimenta da fé

de quem o compartilha.

Se individual, o sonho é frágil,

se coletivo, o sonho se fortalece

se for da humanidade,

o sonho tem a força do universo.

.

O sonho humano

projeta o futuro

sobre a terra.

.

A vida depende do sonho

para poder viver.

A vida é do tamanho do sonho.

LIBERDADE INDIVIDUAL E ORDEM PÚBLICA

Há pessoas de todos os tipos...
E, ainda, serão inventados outros...

Algumas pessoas conseguem viver 
desestruturadas, soltas no espaço,
livres, originais, inéditas, sem limites.
A desordem organiza o mundo delas.

No outro extremo, identificamos
pessoas agoniadas com a perfeição,
que surtam diante de qualquer
imprevisto que ameace a rotina.
Seguindo um trilho, vivem em paz.

Há quem prefira conhecer
os seus próprios limites
e os limites morais e sociais,
para poder respeitar
e, sempre que for possível,
tentar ampliar seus espaços.

A sociedade humana
e as coletividades nacionais
estabelecem padrões sociais
de ordem comunitária,
para relações afetivas e
para condutas morais.

Cabe a cada um de nós escolher
entre seguir as leis e as normas
ou assumir a liberdade absoluta.