Você pede desculpas. Eu não tenho poderes para anular tuas culpas e, muito menos, poder para remir teus crimes. Não há como emendar bananeiras ou desfazer os cortes, os ferimentos e a morte de árvores; não consigo ressuscitar vegetais. Seria utópico (e é) se livrar das agressões apenas confessando as culpas. Você veio reaver as armas do crime, sem trazer de volta os objetos que sumiram, destruídos ou jogados para o fundo do lago do esquecimento. Você não consegue devolver as horas de sono consumidas pela dúvida e pela insegurança decorrente da tua maldade ingênua. Você não consegue devolver a confiança em humanos; você não consegue remendar a paz dilacerada e, muito menos, restituir vida.
Em escala humana, o tempo corre para a frente. Ou parece que corre, o que dá na mesma. Assim, o que foi feito, e todas as culpas que possam decorrer do que foi feito, ficam para trás na estrada da vida. Trabalhamos pelo esquecimento, mas as culpas vêm nos visitar. Pedimos que saiam, mas elas querem fincar moradia em nosso coração. Nada mais humano então do que solicitar de outro que nos libere, como se o outro assim pudesse, das culpas. Curiosamente, isso cria uma segunda camada de culpa: passamos a ser culpados por nos recusarmos a limpar a ficha do outro no banco da culpa.