Ao finalizar o curso de pós-graduação em psicopedagogia clínica, promovemos uma confraternização em que cada um deveria falar ‘algumas palavras como despedida’. Aproveitei para refletir sobre o significado da palavra despedida. DES PEDIR: desfazer o pedido.
“O que queremos dizer ao pronunciar o vocábulo ‘despedida’? Que desejamos desfazer nossos pedidos? Que desistimos das perguntas, das respostas e dos auxílios pendentes? Que abdicamos dos nossos interesses?
Realmente, após a partida de uma pessoa, quando dela nos separamos definitivamente, a ela, não mais pedimos favores, nem opiniões. É isso mesmo que nós queremos fazer a partir de hoje? Não mais procurar os colegas e os professores para pedir opiniões e ajudas? Se assim procedermos, será porque não aprendemos a lição psicopedagógica maior.
E, durante o curso, o que perguntamos ou pedimos aos colegas? E o que oferecemos? Ao estudar psicopedagogia, estávamos procurando compreender as dificuldades de aprender… só dos outros?
Como lidamos com as nossas dificuldades de aprender? O que aprendemos? Poderíamos fazer um inventário das nossas aprendizagens nesse grupo? O que aprendemos sozinhos? O que aprendemos com as pessoas que concordaram com nossas ideias? O que aprendemos com as pessoas que se opuseram às nossas verdades?
Penso que aprendemos mais com os que tiveram a coragem e a amizade de quebrar nossos espelhos… espelhos viciados e coniventes, que refletem apenas a parte da realidade que aceitamos. Espelhos que refletem nossas máscaras.
Se, nesse curso, fomos ajudados a nos ver um pouco mais parecidos com o que somos, agora, poderemos trabalhar as nossas próprias dificuldades de aprender; de saber: QUEM SOU EU?
E, psicopedagogicamente, sabemos que a aprendizagem tem seu tempo de gestação. Não de uma gestação biológica; gestação de ideias, tempo para aprender, período de uma gestação cultural, intercalada de períodos de latência, de vazios e de retrocessos. Sabemos que a aprendizagem não é automática e instantânea. Que podemos chegar ao conhecimento em um dia, em uma semana, em um mês, em um ano, no fim da vida … ou nunca. Que cada um tem seu ritmo e seu prazo. Talvez, no futuro, nos surpreenderemos com descobertas concebidas nesses catorze meses de curso, entretanto, com períodos de incubação diversos.
Nem todas as sementes da Turma ’J’ já nasceram; algumas estão em processo, outras ainda não caíram no chão da vida.”
22maio2002