Andando pela floresta, ouvimos os sons da Natureza como vozes que nos saúdam e nos acolhem. Intercalados com pequenos intervalos de silêncio. Se tivermos sorte, seremos surpreendidos por melodias de pássaros; apresentações individuais, sinfonias, corais, orquestras ou jograis. Sabiás, bem-te-vis, pombas, canários, tico-ticos, coleirinhas, curiós, trinca-ferros, ... Essas alegrias também podem ser vividas em parques, praças e calçadas arborizadas. Os pássaros chegam, pousam em uma árvore, cantam, mudam de árvore, vão embora. Por serem imprevisíveis e por nos alegrarem por instantes, mais fundo gravam os sons em nossas memórias. Levamos conosco a lembrança das melodias e o desejo de ali voltar a ouvir. A surpresa desperta nossa mente; a monorritmia vira ruído... inaudível. Algumas pessoas prendem pássaros em gaiolas exíguas, penduradas em paredes sombrias ou expostas ao sol e ao vento. Ao ver a chuva (se da prisão puder ver...), o prisioneiro abre as penas, recordando dos bons banhos nos tempos de liberdade, se, antes de ser preso, teve essa felicidade... Porque, quando chove, a passarada se alegra com um banho natural. Parodiando Otto Lara Resende em Vista Cansada, podemos dizer que a repetição invariável e jamais ausente nos suja os ouvidos e causa surdez. Um pássaro preso em uma gaiola, presa à parede de barbearia, de oficina, de apartamento ou de sala, ao repetir, do amanhecer ao anoitecer, o mesmo canto, no mesmo lugar, vira monotonia, barulho, falência dos tímpanos.