Compartilho essas confissões com quem me incentiva e dá exemplo literário.
Estou escrevendo um livro; não no livro. Meus dedos (dígitos) teclam letras e vertem frases na tela. Desta forma, estou sendo um escritor.
No entanto, vez em quando, as ideias represam e tenho de voltar ao texto pretérito para ler o que eu próprio escrevi; as leituras soam como se fossem novidades. E, de fato, assim parecem ser. Nessas condições, sou um leitor de mim mesmo.
Surpreendentemente, encontro, no passado do texto, as revelações do que os personagens serão no futuro e volto a escrever o presente da história, que se desenvolve espontaneamente, entrelaçando vidas e destinos.
Às vezes, me sinto conduzido pelo enredo que brota ao acaso, sem a necessidade de dominar o texto. Deixo que ele me domine e flua naturalmente.
No trecho atual (1928), Maria e Carlos iniciam um romance proibido pelos interesses latifundiários do coronel da Guarda Nacional (que, nessa época, já havia sido extinta…). Na história real, eles acabam casando com outras pessoas e só se reencontram trinta anos depois, após o casamento dos filhos ‘individuais’.
Essa sensação estranha de que os personagens se apresentam no momento que necessito deles e que tudo vai se encaixando com minhas pesquisas históricas assusta um pouco. Mas, me deixo levar e a escritura prossegue.
Mario Tessari