A IMAGEM E A ESTÁTUA

O cérebro, através de processos sensitivos, registra na memória imagens (construções mentais de objetos e de acontecimentos), analisadas pela razão ou aceitas “de maneira irrefletida pela consciência imediata” [Houaiss]. Em geral, essas imagens revelam o quanto e o como percebemos a realidade objetiva.

O vocábulo ‘imagem’ descende de ‘imago’, do Latim, imitar. No caso, imitar as características de algum objeto ou fenômeno. Objeto como ação do sujeito pensante; parte do predicado, um atributo, fruto da intuição e da imaginação, formatado de acordo com as categorias do intelecto.

Talvez, por se sentirem inseguros, alguns constroem ou mandam esculpir estátuas das imagens que temem possam fugir da memória deles. Assim, toda vez que esquecerem ou forem tentados a mudar a imagem que formaram de uma pessoa, de um sentimento ou de um fato, eles podem olhar as estátuas correspondentes e voltarem a sentir ‘que nada mudou’, que eles continuam os mesmos, como continua igual a estátua que erigiram.

Platão, em Alegoria da Caverna, analisa como que pessoas presas a imagens ilusórias acreditam conhecer a realidade. Conhecimento ingênuo, frágil diante de análises críticas. E nos força a concluir: “O sábio, depois de desenvolver o conhecimento verdadeiro, sabe apreender, sob a aparência das coisas, a ideia das coisas.”

O ídolo, eleito por seus admiradores, pode rejeitar as imagens que dele fazem, aceitar opiniões alheias ou cultivar a veneração para si mesmo. O cultivo do fascínio pode gerar encantamento e se consolidar em mito.

Muitas vezes, grupos humanos constroem ídolos e se entregam à idolatria. Veneram pessoas e coisas com a convicção de que são sublimes, quase divinas.

Às vezes, nem a morte rompe a quimera. Ao contrário até, pode ampliar e prolongar cultos, gerando mitos.

ESCOLAS DE ENSINAR E APRENDIZAGENS PRAGMÁTICAS

As escolas de ensinar colocam muros ao redor dos prédios para proteger a verdade acadêmica e a ‘sabedoria consagrada’, do ‘perigo’ de serem entendidas e depreciadas por leigos. Essas escolas e os profissionais que nelas trabalham dependem de leis, de instituições organizadoras e de vigilantes que mantenham e que defendam o ‘ensino tradicional’.

Segundo o Dicionário Houaiss, tradição pode significar “ato ou efeito de transmitir ou entregar; transferência; herança cultural, legado de crenças …; conjunto de valores morais […] transmitidos de geração em geração; em certas religiões, conjunto de doutrinas essenciais ou dogmas […] aceitos por sua ortodoxia e autoridade […] na interpretação (dos fatos)”.

As escolas tradicionais exigem disciplina, frequência e notas mínimas nas provas e nas arguições. Como recompensa pelo sacrifício dos alunos, oferece ajudas financeiras, oportunidades de emprego e diplomas com promessas de maiores salários. Nesse sistema, quem obedecer e seguir estritamente as regras institucionais será considerado bom aluno, mesmo que as teorias acadêmicas possam ser aplicadas apenas em processos escolares e em classificações de intelectualidade.

As turmas do ‘ensino oficial’ são diminutas para proporcionar mais cargos de magistério. Uma turma de vinte energias será menos fecunda do que uma turma de quarenta energias. Porém, mais difícil de convencer e de dominar. Há ensinantes demais, muitos deles, descolados das realidades dos alunos e da comunidade. Nos concursos do magistério, os candidatos buscam boa remuneração e estabilidade funcional, com raríssimas exceções de vocação educadora altruísta.

Organizar o saber e a aprendizagem sobressai como virtude rara dentro e fora das paredes escolares. Sentimos prazer ao aprender; sorrimos de alegria a cada pequena aprendizagem. Podemos aprender sozinhos; na troca de experiências e de ideias, aprendemos mais, com maior rapidez e melhor qualidade. Os aprendizes buscam oportunidades de satisfazer as curiosidades e de resolver os problemas, naturais ou por eles mesmos propostos. Desnecessário cercar e exigir que estudem; estudam sem esforços e estimulam quem com eles convive a desenvolverem atitudes e habilidades.

Aprender resulta em maior e melhor contentamento do que o que sentimos ao sermos ensinados. Ao aprender, resolvemos problemas, satisfazemos necessidades e realizamos nossas potencialidades.